Crónica de Maria Donzília Almeida
Costa Nova em grande plano
“A fotografia é a poesia da imobilidade:
é através da fotografia que os instantes
se deixam ver tal como são.”
“Uma imagem vale por mil palavras” foi o slogan que durante muito tempo preencheu o meu cotidiano docente, nomeadamente com o advento dos audiovisuais aplicados ao ensino. A imagem era um recurso educativo muito usado, em sala de aula, como suporte à explicitação e consolidação de conteúdos programáticos.
Dada a sua importância, havia bancos de imagens como precioso material auxiliar do professor.
Com o avanço das novas tecnologias, houve uma significativa poupança de tempo e esforço na obtenção desse recurso.
Considerando a força e eloquência da imagem, há uma forma de a obter que vai somando adeptos – a Fotografia. Colecionar imagens tornou-se uma atividade aliciante e desafiadora, na sociedade contemporânea, mercê da tecnologia e da instantaneidade, por vezes, da informação. Dia a dia, nos movemos mais pelas imagens que traduzem uma linguagem autoral, ou uma forma de comunicação, seja nas artes, na política, no domínio familiar ou como forma de comunicação global.
Quando a disponibilidade de tempo vem associada à vontade de empreender coisa novas, na idade madura, embarca-se na aventura da Fotografia como hobby.
Assim aconteceu com um grupo de seniores que, à 6.ª feira, assistem, religiosamente, à aula de Fotografia como oferta pedagógica na Universidade Sénior.
Um jovem irreverente fotógrafo e apaixonado professor quis transmitir-nos o bichinho da sua arte, aliando conceitos abordados na sua simplicidade com a sua exequibilidade prática. Há uma diversidade de equipamentos fotográficos presentes entre os seniores, desde as câmeras fotográficas compactas até às câmeras fotográficas reflex.
Desde que surgiu a primeira fotografia no ano de 1826, atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce, houve uma verdadeira revolução na comunicação visual.
Uma câmera a tiracolo é uma imagem recorrente nos turistas que deambulam, por esse mundo fora, na ânsia de gravar imagens para memória futura. Hoje, os telemóveis tiraram-lhe a supremacia e andam escondidos mas sempre operacionais.
Amadores ou profissionais, para todos a fotografia é algo muito valioso constituindo um verdadeiro amor nessa sua capacidade de reter cada momento. Para os fotojornalistas é o seu ganha pão e que malabarismos fazem para o conseguir!
Sem pretender tirar dividendos desta atividade, fomos desafiados a fazer uma aula de campo. Assim, numa manhã de temperaturas baixas e uma aragem cortante, partimos para a Costa Nova, não para um banho de mar, mas para mergulharmos na aventura da Fotografia.
O nosso trabalho de campo não iria restringir-se, apenas, à mera captação de imagens, nós íamos fazer fotografia de arquitetura!
Foram-nos transmitidas as informações essenciais inerentes a esta categoria, seja de verticalidade, horizontalidade, orientações específicas neste contexto, bem como os elementos composição e enquadramento, já trabalhados em sessões anteriores.
O frio era inclemente, o ar estava gélido mas nada nos demoveu do nosso objetivo. Já no local, perto da igreja, fizemos um círculo à volta do nosso orientador que recapitulou os conteúdos da aula, com as recomendações para um bom trabalho. Lá partimos com ar resoluto e câmera em riste, pronta a disparar.
Com uma arquitetura vanguardista, inaugurado em 17 de janeiro de 2016, projetado pelos arquitetos Nuno Mateus e José Mateus, do gabinete ARX Portugal, o exterior do Centro Sócio Cultural da Costa Nova foi virado do avesso, multiplicando-se em planos, ângulos e perspetivas. Se a Fotografia é pintar com luz, cada fotógrafo amador produziu uma panóplia de “quadros”, rivalizando com a singularidade do próprio edifício.
Terminada a parte prática, regressámos à base, fazendo um coffee break numa superfície comercial, a meio caminho da Universidade Sénior, com sede no edifício da Remelha, pois o espírito é forte… mas o corpo precisa de aconchego!
No final da manhã, cada um apresentou o seu trabalho e todos assistiram à reflexão e às considerações do professor, que teve a postura pedagógica de um bom profissional. Analisou, apontou os aspetos menos conseguidos, mas elogiando sempre, incentivando os formandos com menos experiência ou com menos facilidade na execução do trabalho. A meu ver, foi muito benevolente, especialmente para mim, que sou uma “pintora” naïf! Cada um, a seu jeito, teve a sua quota parte de sucesso, o que é gratificante e salutar.
Ainda temos dois períodos pela frente para trabalharmos afincadamente e… ninguém espera ficar retido no final do ano!
As fotos apresentadas são da autoria dos formandos: Alice Castro; Álvaro Dias; Flamínio Reis; José Sarabando; Lurdes Corticeiro; Madalena Freitas; Maria Donzília Almeida
Janeiro de 2017