No “sim” de Maria, o Verbo fez-se carne e habitou entre nós. Ele é verdadeiramente o Emanuel, o Deus connosco. «Sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos», diz-nos Ele (cf. Mt 28,20). Em ocasiões de crise do povo de Israel (Is 7,14), Ele já tinha sido anunciado como o Deus que nunca abandona o seu povo, apesar das suas infidelidades.
Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, veio anunciar o Reino de Deus. Toda a sua vida e toda a sua obra são a realização deste novo tempo, a que todos estamos chamados a construir. É Jesus, o menino do presépio, o homem da cruz e o Cristo ressuscitado, quem entrega livremente a sua vida; e o sangue derramado sela a nova Aliança com o novo e verdadeiro Israel – a sua Igreja. Eis que fica, para sempre, no meio de nós e ao nosso dispor.
O Natal, que vamos celebrar no dia 25 deste mês, é um renovado convite à fé e à esperança. Compete à Igreja e a cada um dos discípulos de Jesus proclamar que é possível construir uma sociedade nova, onde verdadeiramente Deus esteja presente; que continue a ser o Emanuel, o Deus connosco. Para isso, temos de ser testemunhas de um mundo onde haja lugar para todos e ninguém fique privado ou excluído dos bens necessários a uma vida digna. Não é possível Jesus nascer no nosso coração e na nossa vida, quando ainda não assumimos uma atitude de humildade, de simplicidade, de amor e de serviço. O Papa Francisco, no início do Advento, convidava-nos à sobriedade, a não ser dominados pelas coisas materiais, mas a sabermos utilizá-las em ordem ao bem comum.
Por mais bonitos presépios que se façam, o coração humano é o melhor presépio de Jesus, cujos valores devem refletir-se permanentemente na vida e no testemunho pessoal de cada cristão. Que o presépio seja uma interpelação para acolher a Palavra e crescer como um homem novo. Que a luz que dele irradia dissipe as trevas e seja a nossa esperança! Urge, à luz do presépio de Belém, fazer uma retrospetiva e interrogar as nossas comunidades cristãs, e cada um de nós, sobre o como devemos viver e como é que a Igreja pode ser testemunha do Emanuel que se fez Deus connosco.
A resposta encontramo-la na Palavra de Deus, proclamada na missa de Natal: «Manifestou-se a graça de Deus, que traz a salvação para todos os homens» (Tt 2,11). Celebrar o Natal é acolher a salvação, renovar a nossa esperança e assumir plenamente a missão de mensageiros da esperança. Na terra brilhou a esperança. Transmitamos uns aos outros esta esperança realizada no nascimento de Jesus. «Cristo é a nossa esperança» (1Tm 1,1).
Passados dois mil anos, inspirados pelo Espírito de Deus, muitos seguidores de Jesus consagram a sua vida, ou parte dela, a continuar esta missão. Pessoas que se dedicam a acompanhar os que vivem sozinhos, a defender os imigrantes e os refugiados, a educar na interioridade e na responsabilidade, a compartilhar as lutas dos pobres, a investigar remédios para doenças incuráveis, a dignificar a política e a vida pública, a fazer resplandecer no meio da sociedade “O Emanuel, o Deus connosco”.
Procuremos viver, neste Advento e neste Natal, uma vida ponderada, justa e piedosa, elevando o coração para o Deus connosco e aprendendo d’Ele a sermos sensíveis aos dramas da humanidade. Natal, mais do que consumismo, é ir ao encontro dos dons de Deus e das necessidades dos outros. Guiados pelo espírito que o anima, vivamos plena e intensamente todos os momentos e celebrações que nos aproximem de Jesus, sobretudo através dos que vivem oprimidos pela miséria, violência, degradação ambiental, pela dor e pelas angústias. A verdadeira festa só acontece, quando formos capazes de perceber os sinais da presença de Deus entre nós.
Desejo que o nascimento de Jesus, o Salvador, seja um dom de Deus para a nossa Diocese, para as comunidades, para cada família, para cada pessoa em particular. Que a todos dê um coração atento e capaz de reconhecer os sinais do seu Reino na vida de cada um e de cada irmão. Que o Emanuel faça do nosso coração o presépio onde quer nascer, ser a luz para todos os nossos dias.
Acolhamo-lo com jubilosa esperança! Que a todos encha do seu amor, na esperança de um novo ano renovado.
FELIZ E SANTO NATAL!
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Natal 2016
† António Manuel Moiteiro Ramos, Bispo de Aveiro