Reflexão de Georgino Rocha
«Faz tua a Páscoa de Jesus.
Experimenta a sua vida nova.»
Jesus ressuscitado deixa-se ver. Aparece a Maria Madalena que, de manhãzinha, vai ao sepulcro de José de Arimateia cedido para dar sepultura aos restos mortais do Nazareno cruxificado. Surpreende-a no caminho do regresso, quando, desolada, vem contar a Pedro que o sepulcro estava vazio e sem qualquer vedação de resguardo. Dá-se a conhecer, chamando-a pelo nome. Encarrega-a de anunciar este feliz encontro, testemunho da sua ressurreição, da sua Vida nova. E ela, entusiasmada e confiante, parte a correr e transmite a feliz notícia: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente”.
Notícia que condensa o acontecimento fundante e central da mensagem cristã, celebrado ao domingo em cada semana e, de forma mais solene, anualmente, no domingo de Páscoa. Acontecimento que dá sentido pleno à vida humana, rasgando horizontes novos a tudo e a todos, ao quotidiano do tempo, à fugacidade da história, à precariedade da existência e das suas múltiplas realizações, à própria morte que é vencida em si mesma para sempre. Os critérios de vida, as prioridades de opções e a escala de valores, as atitudes de relacionamento assumidas por Jesus na sua missão apostólica são definitivamente confirmadas por Deus Pai. E constituem referência luminosa para todo o comportamento humano.
A fé cristã acolhe esta feliz notícia e celebra-a festivamente. O coração humano exulta de alegria vendo realizadas as suas mais nobres aspirações. A família matrimonial encontra a confirmação do seu amor sacramental. A sociedade humanizada sente revigorada a solidadriedade vinculante de todos os seus membros. A Igreja encontra a fonte inesgotável do seu ser e do seu agir. As pessoas de “boa vontade” vibram, a partir da sua consciência individual, com a ressonância primaveril da sinfonia universal da criação que Jesus ressuscitado suscita e rege com maestria inigualável.
O sepulcro vazio abre espaço a muitas interrogações. Que explicação razoável se pode encontrar? Madalena num primeiro momento tem dúvidas e admite roubo e escondimento do cadáver. E faz perguntas. O espírito humano precisa de certezas, sobretudo em situações limite. Os guardas amedrontados deixam-se subornar pelas autoridades e disformam a realidade, propalam boatos que chegam aos nossos dias e dão origem a lendas fantasmagóricas incríveis, assumem atitudes contraditórias como bem comenta Santo Agostinho: Se estavam a dormir, como viram roubar o cadáver? E se não estavam, por que razão o deixastes levar? Boatos e mentiras, à mistura com subornos e meias verdades encontram eco ainda hoje em muitos espaços religiosos e culturais.
O sepulcro vazio é um sinal de que algo de extraordinário aconteceu. A ausência dos restos mortais “obriga” o espírito humano a fazer perguntas, a procurar respostas, a abrir-se à hipótese de novas realidades, de outras dimensões da vida humana. E Jesus ressuscitado toma a iniciativa, como tantas vezes tinha feito na sua missão pública. Sai ao encontro. Torna-se próximo e acessível. Chama pelo nome e faz reconhecer a sua voz. Garante a realidade da sua Vida nova. Constitui testemunhas qualificadas que nos fazem chegar a feliz notícia da Sua/nossa Páscoa.
Um novo ritmo começa a dinamizar a vida: o medo e o comodismo são superados pela ousadia confiante e pela entrega corajosa; a violência e a vingança cedem lugar à paz e ao perdão; a mentira e o boato à verdade e à narração objectiva; a crueldade e a arrogância ao carinho e ao serviço; a tristeza infinda pela separação à alegria incontida da presença e da comunhão definitivas.
Por isso, adianta o bispo de Setúbal, celebramos a Páscoa, sem esconder sob o tapete do comodismo ou do medo o sofrimento e a morte, mas expondo-os ao sol do amor e do poder de Deus, com o qual é possível construir um futuro novo e jubiloso, nesta terra e na plenitude da vida de Deus”.
Que bom aceitar o convite: Faz tua a Páscoa de Jesus. Experimenta a sua vida nova.