sábado, 5 de março de 2016

Auto da Barca do Inferno

Crónica de Maria Donzília Almeida

Elenco 

«Vocês, artistas que fazem teatro em grandes casas, sob sóis artificiais diante da multidão calada, procurem, de vez em quando, o teatro que é encenado na rua. Cotidiano, vário e anónimo, mas tão vivido, terreno, nutrido da convivência dos homens, o teatro que se passa na rua.» 

Bertolt Brecht

Fidalgo

No dia 29 de fevereiro, a Companhia de Teatro (!?) da US levou à ribalta, no Museu Marítimo de Ílhavo, o Auto da Barca do Inferno, trazendo colorido ao último dia de um mês tenebroso em termos de meteorologia. Em parceria com a autarquia e num intercâmbio com as escolas do município, foi proporcionado aos alunos do 9º ano a visualização desta peça de teatro que faz parte do programa de Língua Portuguesa. Da teoria, passaram à prática. Constitui uma forma de enriquecimento das aprendizagens em contexto de sala de aula, já que os alunos, nesta faixa etária, não acham grande piada às opiniões que Gil Vicente tinha da sociedade da época.
Tive a agradável surpresa de ver, na assistência antigos alunos , acompanhados dos seus professores, meus colegas. Houve acenos e sorrisos cúmplices que se mesclaram com a nostalgia dos tempos áureos da teacher . Senti-me duplamente em casa.

Gil Vicente foi considerado o “pai” do Teatro português. Foi contemporâneo dos Descobrimentos mas, ao contrário de Camões, que exaltou os portugueses, fez uma crítica mordaz, na caricatura que construiu da sociedade portuguesa de então. Dramaturgo na corte da Rainha D.ª Leonor, para além de escrever e encenar as suas peças, organizava também as festas reais. Homem dos “sete ofícios”, julga-se que foi também ourives e Procurador dos Mistérios na Câmara de Lisboa. 
Neste auto, Gil Vicente faz chegar à margem as almas representativas das várias classes sociais e profissionais de seu tempo: a nobreza, representada pelo fidalgo; o clero, pelo frade amancebado; os mestres, pelo sapateiro; o poder judicial, pelo corregedor e pelo procurador; a dos agiotas e ladrões, pelo judeu, pelo onzeneiro e pelo enforcado; a dos mistificadores, pela alcoviteira. Para todas estas personagens o destino é o reino de Satanás. Todos argumentam com inúmeras razões o seu direito de embarcar no batel do Paraíso, mas apenas se salvam quatro cavaleiros que combateram pela fé de Cristo e um parvo: “Bem aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino do Céu”.
As personagens foram distribuídas de acordo com as características de cada formando, tendo-me cabido o papel de fidalgo e o de procurador, uma vez que o elenco das personagens é vasto para o número de formandos disponíveis. Identifiquei-me mais com o papel de fidalgo, pois sempre fui atraída pela nobreza…(de caráter)… como diz o meu primo Conde…com quem tenho muitas afinidades. A nuvem de mistério que envolve a minha árvore genealógica, nomeadamente no que concerne à minha ascendência materna, será indício de algum sangue azul que ainda me corre nas veias!!?
Mas, se em mim se colou a fidalguia, nem todos os papéis são o prolongamento da pessoa que os desempenha…refiro-me em particular ao Diabo, que não tem nada a ver com o ator. Apesar de ter sido exímio na sua performance, não lhe reconheço qualquer traço mefistofélico, sendo ali na US, uma das pessoas mais cordatas…eu diria mesmo, um Gentleman……
Sob o lema “Ridendo castigat mores” Gil Vicente criticou os costumes, hábitos e vícios daquela época, tentando moralizá-la. Os ''podres'' do século XVI, por estranho que pareça, são os mesmos de que enferma a sociedade deste século XXI. Será tão lenta a evolução do homem ao longo dos tempos? A máquina, sem alma tem evoluído mais, ultrapassando de longe o seu criador. Por estas razões a obra de Gil Vicente mantém a atualidade, nos dias de hoje. 
Todos nós somos amadores, não temos quaisquer qualificações na arte dramática, mas tentamos superar-nos, pois temos uma formadora muito exigente. Está provado que só professores exigentes levam os alunos ao quadro de honra e excelência! Há no grupo potencial para isso…quiçá para a candidatura a um Emmy!!!
No nosso trabalho de bastidores, temos momentos de agradável convívio, de genuína alegria em que se cumpre o objetivo primordial da arte cénica – a catarse, presente na filosofia aristotélica e na terapia de Freud. O teatro é o nosso laboratório de emoções.
O sonho comanda a vida e se é verdade que o homem só envelhece quando os sonhos dão lugar aos lamentos… nós somos seniores mas não velhos, pois continuamos a sonhar em ir mais longe nas nossas realizações…e há quem diga que seremos os “jovens” do futuro: irrequietos, loquazes, empreendedores, sonhadores … e atores!
Uma nota final para destacar a presença do vereador da MaiorIdade, Eng. Paulo Costa a assistir, aplaudir, mas também a apoiar e incentivar esta “juventude” sénior.

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