que não quis deixar morrer
Neste mês de março, em que se realiza mais uma edição da Rota das Padeiras, promovida pela Câmara Municipal de Ílhavo em parceria com a A.C.R. “Os Baldas”, dedicamos a rubrica “A Nossa Gente” ao moleiro Urbino Grave.
Urbino Grave nasceu a 11 de julho de 1939, em Vale de Ílhavo, e desde tenra idade aprendeu esta antiga profissão, que herdou do seu pai e do seu avô, dedicando-se a apreciar o ritmo pachorrento com que o moinho procedia à moagem dos cereais.
Estudou até à 4.ª classe num tempo em que a vida era dura e se tornava imperioso auxiliar na lavoura e na moagem. Com apenas 12 anos de idade, Urbino Grave já fazia o transporte da farinha para os clientes: as padeiras de Vale de Ílhavo e padarias de Ílhavo e da Gafanha da Nazaré.
Antes de casar, ainda trabalhou durante três anos na CUF (Companhia União Fabril), em Cantanhede e em Coimbra, mas foi a arte de moleiro que lhe preencheu o ser.
Urbino Grave recorda-se das águas nascentes do Vale das Maias (Município de Vagos) passarem pela levada que abastecia a azenha fundada pelo seu avô José João Grave.
Hoje, sob o soalho da sua moagem ainda está a levada (seca), mantendo-se o velho alçapão que dava acesso a essa conduta que fazia mover as rodas que então davam vida às mós. Nesse tempo havia a “levada grande” e a “levada pequena” que se cruzavam um pouco acima da azenha da família Grave. Um pouco mais a jusante dessa azenha, as duas levadas juntavam-se, seguindo depois só por uma vala até à Ria, próximo da Vista Alegre. Essas águas foram desviadas, em meados da década de 1940, para abastecer a rede de água domiciliária da Cidade de Aveiro, fazendo secar as levadas que moviam dezenas de azenhas localizadas ao longo da área que se estende desde o Vale das Maias até à Vista Alegre, com passagem por Vale de Ílhavo, Carvalheira, Ermida e Soalhal. Nessa altura, a Câmara Municipal de Aveiro indemnizou os moleiros pelo prejuízo causado pelo desvio da água. Os moleiros que motorizaram as suas azenhas receberam a quantia de 25.000$00, valor que duplicou para aqueles que mudaram de atividade.
Em 1946, o avô deste moleiro optou por manter a atividade e motorizar a azenha, composta por dois casais de mós, inicialmente com um motor a gasóleo e, mais tarde, a eletricidade.
A moagem foi passando de geração em geração: passou para as mãos do pai de Urbino, Manuel Vieira Grave e, em março de 1977, para o próprio Urbino Grave.
Dedicado e empreendedor, este ilhavense orgulha-se da menina dos seus olhos, a Moagem Grave, que conseguiu aumentar para sete casais de mós (quatro de milho e três de trigo) e de ter a trabalhar consigo o seu filho, António Manuel Grave, a quem espera deixar este ofício em vias de extinção, mantendo a luta por uma tradição que teima em não deixar morrer.
Fonte: Agenda "Viver em..." da CMI
Nota: Não conheço o senhor Urbino Vieira Grave, porventura o último moleiro das nossas terras, mas considero pertinente divulgar o seu exemplo de vida e a originalidade da sua persistência.
A “Agenda viver em… “ da CMI presta desta forma um bom serviço aos nossos contemporâneos, divulgando uma atividade rara nos tempos que vivemos.Com este testemunho, todos ficamos a saber como era, de certo modo, a vida de um moleiro, profissão herdada de seu avô, que soube agarrar com gosto.