Faz hoje dois anos
que partiu para o seio de Deus
Padre Miguel (Foto do meu arquivo) |
É sempre com alguma emoção que evoco o Padre Miguel Lencastre,
um amigo desde que o conheci e com quem colaborei enquanto coadjutor e depois pároco
da Gafanha da Nazaré, ao todo 11 anos. Depois disso, sempre que vinha por estes
lados, fazia questão de me visitar, o que muito me honrava.
O Padre Miguel foi-me apresentado uns tempos antes de vir
para a Gafanha da Nazaré. Foi no Café Central, frente à igreja matriz da nossa
terra, onde estava a tomar café com o Padre Domingos Rebelo dos Santos, nosso
prior de então. Nessa altura, adiantou o Padre Domingos, estava a ser
equacionada a hipótese de o Padre Miguel vir para a nossa paróquia como
coadjutor. E foi dizendo que ele pertencia ao Movimento de Schoenstatt e que
teria optado pela Gafanha da Nazaré, por ser um ponto central do nosso país,
bem útil para difundir a mensagem schoenstattiana.
O Padre Domingos referiu que o Padre Miguel tinha sido
ordenado presbítero há pouco e que, de acordo com os seus superiores, gostaria de
trabalhar numa paróquia. Tive a indelicadeza de lhe perguntar a idade, já que,
como era normal, os padres são ordenados mais cedo, deduzi. Fiquei a saber que
tinha nascido em 1929, sendo portanto mais velho do que eu nove anos. Afinal, frisou, tinha sido uma vocação tardia
O tempo foi passando e o Padre Domingos, quando podia,
falava-me de Schoenstatt e da sua espiritualidade, que abarcava todas as faixas
etárias da sociedade, numa perspetiva de formar um homem novo para uma nova
sociedade. Depois seguiu-se o que todos os gafanhões já conhecem, pertençam ou não
ao Movimento criado pelo Padre José Kentenich, e tendo como traves-mestras o
Santuário, Nossa Senhora e os ensinamentos do fundador, sempre com Jesus Cristo
no horizonte da caminhada de formação e conversão para os trabalhos apostólicos
e humanos.
Admirei o Padre Miguel, cujo regresso ao seio de Deus hoje
celebramos, pelo seu sentido de abertura ao mundo, pela rara capacidade de
liderança, pelo amor aos feridos da vida, pelo testemunho cristão e humanista
sem fronteiras, pela simplicidade no contactos com todos, independentemente da
condição social, económica, política e religiosa de cada um. Com todos convivia e com
todos partilhava os dons que recebera da sua própria família e de Schoenstatt, enriquecidos
na fé que abraçara na juventude.
Que Deus o tenha no seu regaço maternal.
Fernando Martins