Reflexão de Georgino Rocha
do Deus revelado em Jesus
é próximo e familiar»
O nome de Jesus é-lhe dado por seus pais por indicação do anjo Gabriel, aquando da anunciação em Nazaré. Maria e José vão ao templo de Jerusalém cumprir o que estava prescrito. Observam o ritual comum a todos, inscrevem o nome do Menino no registo oficial, inserindo-o na história de Israel e, por ela, na da humanidade.
Nome anunciado, nome dado, nome registado, nome realizado e em realização. Porque Jesus não indica apenas uma figura histórica, mas uma missão pessoal com abrangência universal. Ele é o Salvador como anunciaram os coros celestes aos pastores de Belém, a Luz oferecida por Deus a todos os povos como intuiu profeticamente o velho Simeão, o Emanuel de todos os peregrinos no tempo como vaticinou Isaías, o filho de Deus como reconhece o centurião romano, o “meu Senhor e meu Deus” como confessa Tomé ao ver as chagas do cruxificado/ressuscitado. E a lista dos títulos que expressam a missão de Jesus pode facilmente alongar-se com tonalidades várias que realçam a riqueza extraordinária da sua realidade admirável.
O rosto de Deus brilha na humanidade ferida das vítimas de toda a violência, nos condenados inocentes pelos agentes do poder injusto, nos presos silenciados e nos peregrinos rejeitados, nos migrantes pressionados pelas forças adversas, nos refugiados indocumentados, nos jovens sem esperança de futuro, nas crianças abandonadas, nos recém-nascidos dependentes na sua fragilidade. E em tantas outras situações desumanas. Brilha como a flor débil que vai crescendo a custo no charco de lodo ou na lixeira “a céu descoberto” onde pululam os insectos à procura de alimento. E como flor pequenina necessita de cuidados especiais que a tornem vigorosa e irradiante, aromatizada e atraente.
O brilho do rosto do Deus revelado em Jesus é próximo e familiar, sujeito às leis precárias do tempo, debruçado sobre as misérias humanas e pronto para intervir e sanar. Que contraste com a imagem que certos textos sagrados, designadamente litúrgicos, conservam e se apresentam para serem rezados com solenidade. Textos que enaltecem o poder, a força, a distância, a grandeza ilimitada, a sabedoria infinita, a santidade absoluta, a justiça sem “dó nem piedade”. Como pode sentir-se bem o ser humano, pobre criatura, nas mãos de um tal senhor?! Bem e confiante, estimado e animado a prosseguir na busca de um rosto benigno, compreensivo, acolhedor como o Pai bondoso dos filhos teimosos e desavindos.
A missão de Jesus que o seu nome contem e se realiza ao longo da sua vida histórica condensa-se na revelação do rosto de Deus como Pai, da relação filial dos humanos com este Deus, fonte de vida e amor, no relacionamento fraterno entre todos os homens e mulheres, no cuidado de toda a criação e no respeito pela função social dos bens. A harmonia destes pólos da missão de Jesus provoca a sinfonia do Universo, a Paz jubilosa anunciada com o seu nascimento.
Jesus é a nossa Paz. Realizou-a na vida e deixou-a como legado aos seus discípulos missionários, os cristãos em Igreja e na sociedade. Já a havia semeado no coração das pessoas de “boa vontade”. Que fizemos nós da paz deixada como herança?
O Papa Francisco bate à porta da nossa consciência e clama: “Vence a indiferença e conquista a Paz”. E no seu estilo claro e assertivo apresenta a primeira forma de indiferença na sociedade humana que é “a indiferença para com Deus, da qual deriva a indiferença para com o próximo e a criação”. E denuncia a indiferença e consequente desinteresse “como uma grave falta ao dever que cada pessoa tem de contribuir - na medida das suas capacidades e da função que desempenha na sociedade – para o bem comum, especialmente a paz, que é um dos bens mais preciosos da humanidade”. A mensagem do Papa contem uma sabedoria e é de uma oportunidade tais que a credenciam como um dos textos mais auspiciosos para o Ano 2016 e, nele, para o futuro da humanidade.
O nome de Jesus, recebido por sua Mãe na visita do Anjo, é zelosamente guardado e fielmente transmitido. A Igreja evoca este feliz acontecimento, celebrando a festa da Maternidade divina de Maria, a Senhora da Paz. Que ela nos acompanhe com o seu olhar de misericórdia e nos obtenha de Deus bênçãos de paz para o Ano Novo.