sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Avisados, esperamos confiantes o Senhor

Reflexão de Georgino Rocha



Sentado no monte das Oliveiras, Jesus contempla Jerusalém e o seu Templo, de onde havia saído após o episódio da viúva que deitou todos os seus haveres na caixa de esmolas. E desabafa com os discípulos que lhe chamam a atenção para a grandiosidade da cidade e das suas contruções: “Não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. Refere-se Jesus ao futuro imediato e longínquo: à sua paixão e morte, à invasão e destruição da cidade pelo exército romano e ao feixo da história, ao findar do tempo, à chegada de “uma nova primavera” da vida, à inauguração da eternidade feliz.

Marcos, o autor da narrativa, escreve mais tarde o seu evangelho e reveste esta “profecia” com uma linguagem codificada que só os iniciados entendiam. É a linguagem apocalíptica, com imagens dignas de um filme de ficção, de terror e angústia, mas portadoras de uma enorme esperança e elevação. De facto, é preciso, penetrar na “carruagem” vendo para além da “aragem” e situar a interpretação do texto na época e na cultura em quue foi escrito. Mc 13, 24-32. A apocalíptica destina-se a dar conforto em tempos de desânimo e de tentação, de deserção, de perseguição e de morte. É, normalmente, uma linguagem imperceptível pelos verdugos e entendida pelas vítimas. Vamos destacar algumas dessas imagens com a intenção de fazer despertar o sabor da mensagem que Jesus nos oferece.

O sol escurece, a lua perde claridade, as estrelas deixam de brilhar e as forças celestes são abaladas nos seus fundamentos. Esta ocurrência, em circuito fechado, sem mais horizontes, gera angústia, aflição, pânico. No entanto é o cenário em que emerge uma nova luz que é o Filho do homem, isto é Jesus ressuscitado, após o tormento da sua paixão e morte. É Jesus que vem reunir os seus eleitos de todo o mundo e de todos os tempos, vem estar com a nova humanidade, contemplar as cicatrizes das suas feridas curadas, congratular-se com a sua vitória. É tempo de encontro, de alegria, de convívio, de festa. 
A narrativa refere, sobretudo, as atitudes de quem vive estas situações e não tanto os acontecimentos e os pormenores em que ocorrem. Atitudes de esperança confiante, de alegria transbordante, de vida nova a pulular como em primavera exuberante. E não de medo e angústia que paralisam energias de vida e frustam aspirações de realização feliz.

Trata-se do final de um mundo de tribulação, de tristeza, de enfermidade, de injustiças, de morte. A nível pessoal e cósmico. A vinda e presença definitiva de Jesus é motivo de maior consolação e confiança para toda a humanidade; é certeza firme de ser Aquele em quem cremos e confiamos, que desejamos seguir e escutar. Aquele que melhor nos compreende e mais quer o nosso bem.

A nossa vida está orientada para este encontro feliz e definitivo com Jesus. Ele virá e está a vir nos sonhos do bem e do belo, nas aspirações genuínas do coração, na busca sincera da verdade que robustece as motivações da consciência. Ele trará e está trazendo já a alegria, a paz, o amor de doação, as oportunidades de solidariedade positiva. Ele gerará e já está gerando a esperança que nos faz cantar exuberantemente como as aves na primavera, como o agricultor ao contemplar a sua figueira. O frio do inverno cede a vez ao calor do verão e os rebentos aos figos maduros que fazem a delícia do lavrador.

Este é o anúncio que Deus nos promete em Jesus e nos envia a anunciar por toda a parte. O seu triunfo definitivo implica também o nosso. A sua palavra é para sempre. O modo e a data da “passagem” do que é transitório e caduco, embora muito valioso para o tempo da peregrinação terrena dos mortais, estão no segredo de Deus; de certeza que acontecerá quando for o melhor para cada um de nós e para todos. Garante-o a fé cristã. Entretanto, avisados como estamos, preparemo-nos para a festa da nova humanidade prometida por Jesus e para a qual somos convocados.


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