Reflexão de Georgino Rocha
«Seguir Jesus é ser o primeiro
Jesus aproveita um episódio familiar para fazer o seu ensinamento sobre o exercício do poder. Fá-lo em dois momentos, profundamente relacionados. “Nada disso entre vós” – diz aos discípulos ciumentos por verem a pretensão de Tiago e de João. Jesus referia-se ao modo como os reis da terra, os homens do poder dominam os súbditos, escravizam os concidadãos, dispõem dos sem protecção nem recurso. É uma lição da história que mantém toda a actualidade. Mesmo nas ditas democracias em que a manipulação da vontade popular se torna patente ou anula. Quanto mais nas ditaduras de todo o tipo.
Os irmãos Tiago e João têm pretensões ousadas. O seu sonho é ocupar um lugar no trono de Jesus, imaginando-o à maneira do messianismo judaico, temporal, libertador da opressão dos romanos e, consequentemente, sem entraves para o exercício do poder. Sonho arrojado que desperta a inveja dos companheiros e origina uma situação em que o Mestre vai manifestar o próximo futuro que vislumbra. Recorre a duas metáforas conhecidas: beber o cálice e receber o baptismo que ele próprio assumiria. Abre a ponta do véu da amargura da paixão, do sangue da crucifixão, da experiência da solidão na agonia e morte. “Podemos” – respondem cheios de coragem e determinação. E de facto, assim acontece. Passados poucos anos, Tiago é mandado matar por Herodes e João sofre o exílio e tudo o que o acompanha.
Revelam uma têmpera humana “invejável”, fruto de vários factores, sobretudo familiares. O pai Zebedeu era profissional de pesca no mar de Tiberíades e consertava redes na barca com os assalariados quando os filhos são chamados para seguir Jesus. A escola do trabalho ensina-os a prepararem-se para enfrentar os desfios da vida, por vezes muito duros e exigentes. A mãe fica conhecida só pelo doce nome de mãe e pelas atitudes que toma: ousa, segundo o Evangelho de Mateus, fazer o mesmo pedido a Jesus (será um versão diferente) e está presente no grupo das mulheres que permanecem fiéis na hora da sua crucifixão e morte. Constituem uma família típica em que cada um assume funções diferentes, irmanados no mesmo ideal. Apoiam-se mutuamente. Alicerçam os sonhos em modos de vida exemplares e provados. Investem, dentro das regras do tempo, no melhor para todos. Estão atentos à novidade de Jesus que captam, à sua maneira, e querem corresponder-lhe.
“Não deve ser assim entre vós” – diz o Mestre em tom exortativo aos discípulos indignados. E apresenta o exemplo do Filho do homem (que é ele mesmo) que veio para servir e dar a vida por todos. Faz assim uma leitura da sua história pessoal e mostra o desfecho que, em breve, se aproxima. Estavam a caminho de Jerusalém onde tudo iria consumar-se.
Seguir Jesus é ser o primeiro na disponibilidade para servir, ser grande no amor aos mais desprotegidos e necessitados, ser ousado na criatividade e na coragem de enfrentar situações difíceis, ser paciente e tolerante nos infortúnios e nas tribulações, ser misericordioso nas relações familiares, sociais e religiosas, por vezes demasiado rígidas, ser confiante e dar a vida sem reservas calculadas porque está nas mãos de Deus Pai.
Como fazem tantos homens e mulheres missionários, pais de família, professores de educação e ensino, políticos e empresários. Como testemunham os mártires do nosso tempo cujas fotos doridas nos entram pela casa dentro. Como Santa Santa Teresinha de Jesus e seus Pais que, neste domingo das Missões, são canonizados como casal.
Servir com alegria, fruto do amor de doação. Servir com alegria, a começar pela família e pelo apreço à vida humana em todas as fases do seu desenvolvimento. Servir com alegria, contemplando o rosto do crucificado/ressuscitado.