Em setembro de cada ano, a procissão pela Ria de Aveiro é
também, para além do espírito religioso que a anima, um cartaz
turístico de relevo. O elevado número de participantes que enchem os barcos e
barquinhos que se associam à festa e os que emolduram as margens da laguna
fazem deste evento um dos mais apreciados pelas populações ribeirinhas.
Em boa hora, pois, o saudoso Padre Miguel Lencastre avançou
com esta iniciativa, inspirando-se em Porto Alegre, Brasil, quando do avião em
que seguia apreciou a procissão em honra da Senhora dos Navegantes, num dia 2
de fevereiro. E se gostou, mais depressa se entusiasmou e em 19 de setembro de
1976 realizou-se, na ria de Aveiro, a primeira procissão lagunar dedicada a
Nossa Senhora dos Navegantes, venerada na capela do Forte da Barra, construída
[ou inaugurada] em 3 de dezembro de 1863.
Diz o relato publicado no “Timoneiro” de outubro/novembro
daquele ano que a festa foi organizada e animada por uma comissão de
trabalhadores da JAPA (Junta Autónoma do Porto de Aveiro), outra da Cale da
Vila e pelo Stella Maris, que arcaram com as inerentes responsabilidades dos
festejos. A procissão foi presidida pelo então Bispo Auxiliar de Aveiro, D.
António dos Santos, que veio a ser posteriormente Bispo da Guarda. No final da
procissão, D. António celebrou a eucaristia junto da capela, contando com a
participação de milhares de pessoas, segundo se lê no mesmo mensário.
O mesmo relato refere que na procissão seguiram os andores de
Nossa Senhora da Nazaré, Nossa Senhora da Boa Viagem e, naturalmente, de Nossa
Senhora dos Navegantes. Ainda se sublinha que um helicóptero da Base de São
Jacinto sobrevoou a procissão, em jeito de homenagem a Nossa Senhora.
Uns anos depois, tudo esmoreceu e caiu no esquecimento. E só
na EXPO98 foi retomado o entusiasmo. O Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré,
que na grande exposição participou numa festa semelhante e teve conhecimento de
procissões deste género que se faziam no país, tomou a decisão de avançar com a
festa da nossa ria, em honra da Senhora dos Navegantes. Até hoje, desejando-se
que nunca esmoreça o gosto que ela suscita entre nós.
Fernando Martins