Crónica de Maria Donzília Almeida
Yes, Honey! – Foi a resposta de uma native speaker (1) num contexto de vida social a uma interpelação que lhe fora feita, ali na USGN(2).
A palavra honey para além do significado concreto de mel das abelhas, tem uma conotação muito específica, no tratamento interpares, no que concerne ao relacionamento humano.
A fluidez do significante, predominantemente vocálico, em língua inglesa, soa algo doce aos ouvidos e… ao coração do interlocutor. Assim aconteceu e imediatamente fez abrir a arca da memória e recordar um episódio da minha prática letiva.
Acabara de entrar na sala de aula, mal colocara sobre a mesa de trabalho o livro de ponto e o material respetivo para dar início aos trabalhos. O material eletrónico, PC e quadro interativo, já faz parte do acervo de qualquer sala de aula, nos tempos que correm e numa escola que se quer uptodate (3)!
Antes mesmo de todos os seus colegas terem entrado e se terem instalado ordeiramente nos seus lugares, que tudo isso leva o seu tempo e tem que se fazer render, na ótica dos alunos, eis que o G.G, herói de outras narrativas se abeira da teacher. Fê-lo, sorrateiramente, adiantando-se a todos os seus companheiros, não fossem eles perceber o motivo daquela abordagem tão cheia de secretismo.
— O que significa honey, s’ôra?
O ar malandro e ao mesmo tempo comprometido do pimpolho que tinha uma carita de lua cheia, não deixava margem a dúvidas. Ele sabia ao que vinha, apenas queria a confirmação daquilo que já suspeitava. A teacher que conhece estes alunos de ginjeira, arquitetou ali, de improviso, um plano para tirar dividendos desta pretensa ingenuidade.
Imediatamente aflorou à memória, a canção da juventude, ainda bem gravada e tantas vezes trauteada: “Oh sugar, sugar, Oh honey, honey…” Todo o esplendor e encanto duma época áurea foram ali revividos com emoção mesclada de nostalgia.
— Claro que respondo à tua pergunta, com todo o esclarecimento necessário… mas no fim da aula…se os meninos se portarem bem e realizarem com afinco todos os trabalhos! — respondi com benevolência que é apanágio do professor.
Poderão acusar-me de chantagem pedagógica, mas nesta situação, os fins justificam os meios. Para se alcançar o tão almejado sucesso na aprendizagem, o professor tem que se socorrer de estratégias, nem sempre ortodoxas.
Enquanto os alunos executavam as tarefas propostas e faziam o registo escrito dos exercícios, a teacher investigou no youtube a letra da canção que fizera furor nos anos 60.
No fim da aula, como prometido, foi cantada pelo grupo musical “The Archies”, com a letra apresentada no quadro interativo, para os alunos poderem acompanhar. Foi explorado o campo semântico da palavra sugar: honey, candy… etc. tudo palavrinhas doces, tão do agrado da pequenada. O G.G. apreendeu, claramente emocionado, a polissemia da palavra honey!
A melodia entrou rapidamente no ouvido, todos cantaram em coro e a teacher rejubilou, ao ter ali mesmo naquela sala de aula, a adesão em massa, dos seus alunos a uma canção da sua juventude. Foi feita a constatação, em pleno século XXI, que a música é intemporal.
(1) Native speaker – falante nativa
(2) USGN – Universidade Sénior da Gafanha da Nazaré
(3) Uptodate - atualizada