Um texto de J.P.F. no Correio do Vouga
O jornalista António Marujo,
na Feira do Livro de Aveiro,
destacou as mudanças de Francisco
e lamentou que nas estruturas locais
não sejam seguidas com entusiasmo
António Marujo |
0 Papa Francisco "está a fazer grandes mudanças no Vaticano", mas "não está a ser acompanhado" em muitas dioceses, paróquias e outras estruturas da Igreja católica, captando, com frequência, mais o interesse de quem está fora da Igreja do que de muitos cristãos com responsabilidades — é a convicção de António Marujo, partilhada numa conversa na Feira do Livro, na noite do último sábado, a convite da Livraria Sana Joana. O jornalista, coautor de "Francisco, pastor para uma nova época" (Paulinas), um dos primeiros títulos publicados em português sobre o Papa Francisco, apontou a reforma do IOR (Instituto para as Obras Religiosas — vulgo "banco do Vaticano") como exemplo das mudanças provocadas por Francisco, ainda que, na sua opinião, fosse preferível a extinção do banco. Como sinal profético do homem que é reconhecidamente o grande líder moral global, apontou a primeira saída do Papa para visitar a ilha de Lampedusa, onde são acolhidos os imigrantes africanos que procuram a Europa.
António Marujo falou das dificuldades atuais do jornalismo em Portugal, incluindo o jornalismo de temática religiosa, e partilhou com leitores e amigos alguns dos seus projetos. Sobre o panorama do jornalismo em Portugal, lamentou a perda de memória nas redações dos órgãos de informação, porque é mais barato ter um estagiário ou um jovem do que um jornalista experiente, e criticou a cedência generalizada ao futebol, que abre noticiários, por vezes só com uns toques de bola nos treinos, e ocupa largas páginas na imprensa, relegando para segundo plano assuntos bem mais decisivos para a vida da comunidade. "As pessoas gostam" não é bom critério. E referiu como exemplo positivo que, na Alemanha, durante o seu mundial, em 2006, a informação futebolística raramente abriu telejornais, sendo tratada em programas próprios.
Quanto a projetos pessoais, na área da informação religiosa, o jornalista de origens aveirenses referiu que está a escrever um livro sobre Taizé, depois de ter passado quinze dias na comunidade ecuménica francesa, tendo entrevistado os seus atuais dirigentes (no seu livro "Deus vem a público" há entrevistas ao fundador da comunidade, Ir. Roger, e a Ir. Alóis, atual prior), e põe a hipótese de escrever um outro sobre o P.e Joaquim Carreira, que foi vice-reitor e reitor do Colégio Português, em Roma, durante a II Guerra Mundial, tendo acolhido judeus. Em dezembro de 2012, António Marujo publicou uma reportagem sobre o padre leiriense, incluindo o testemunho de um dos judeus salvos, e esse artigo veio a desencadear um processo que levou o Yad Vashem (organismo israelita que tem por função recordar os judeus mortos no Holocausto nazi) a declarar o P.e Joaquim Carreira "justo entre as nações", como Aristides de Sousa Mendes.
Boas leituras
Solicitado a sugerir bons livros, António Marujo apontou duas obras monumentais, uma sobre a Idade Média (ed. Dom Quixote), em quatro volumes, dirigida por Umberto Eco, e outra sobre a história do corpo humano (ed. Círculo de Leitores), em seis volumes. Sugeriu ainda o livro sobre Jesus do padre norte-americano James Martin ("Jesus, um encontro passo a passo", ed. Paulinas); os livros do teólogo chego Tomas Halik, que refletem muito bem a "descrença contemporânea"; a biografia de Etty Hillesum (de Paul Lebeau, ed. Apostolado de Oração), a judia corajosa que morreu no campo de concentração de Auschwitz, protagonizando uma imensa transformação espiritual; e as homilias do Papa Francisco na Casa de Santa Marta ("A verdade é um encontro", ed. Paulinas). O Papa sintetiza em duas ou três páginas a mensagem cristã sem que ela perca profundidade e significado. Um exemplo para os pregadores e estímulo para o dia a dia dos cristãos.
J.P.F.