Reflexão de Georgino Rocha
Georgino Rocha |
Os discípulos de Emaús, após terem reconhecido Jesus, partem apressados e cheios de alegria para a cidade, encontram o grupo dos apóstolos reunido e narram a experiência gratificante vivida durante a caminhada. É a primeira vez que estão todos em comunidade. É a primeira vez que o “partir do pão” surge como momento especial de reconhecimento do Ressuscitado. É a primeira vez que se evoca a releitura da Sagrada Escritura como critério para a compreensão da história e reposição da verdade,
O acesso à experiência da ressurreição de Jesus dá-se, segundo Inácio de Loyola, pelo reconhecimento dos seus “santíssimos efeitos”. São estes que constituem a “janela” do espírito humano iluminado pela fé. São estes que provocam o encontro feliz que abre o entendimento do crente e o leva a identificar o Senhor. São estes que alargam os horizontes e lançam em maior profundidade as razões da esperança pascal.
Os efeitos da ressurreição manifestam-se na vida humana, na relação entre os membros da sociedade, na união fraterna dos cristãos, na partilha de bens e na organização da economia solidária, na política ao serviço do bem comum, na escuta atenta da Palavra e na sua transmissão dinâmica, na misericórdia ( dar o coração) aos míseros, aos que necessitam de tudo para recuperarem a dignidade roubada e terem uma vida boa/feliz.
Karekin II, patriarca da Igreja Apostólica Armênia, cuja sede é na Armênia, em Echmiadzin, anuncia que, a 23 de Abril próximo, vai proclamar o martírio de um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, mortos em 1915 e nos anos seguintes. "Cada dia de 2015 será um dia de lembrança e de devoção ao nosso povo, uma viagem espiritual ao memorial dos nossos mártires", afirma. Esta voz autorizada vem juntar-se à de historiadores sérios e à do Papa Francisco que recentemente designou a vontade de contrariar os factos pelo Governo Turco e outros interessados por “genocídio do silencia”. Reler a história, dar voz às vítimas abafadas, fazer ressurgir o seu bom nome e a sua dignidade, reconhecer as “hediondices” escondidas pelas esponjas de ideologias nefastas e trazê-las “a lume” público, constitui sem dúvida um rebento da primavera pascal do Senhor ressuscitado.
Entender a Escritura é apreciar a vida com a sabedoria da cruz florida, compreender a trama dos factos e o sentido que comportam à luz das atitudes de Jesus Cristo confirmadas por Deus Pai no acontecimento único da ressurreição. É saber situar-se na realidade, aprender a viver com honradez, a afrontar os problemas sem subterfúgios, acreditar no valor do presente onde se faz a sementeira do futuro desejado.
Jesus está vivo. Importa descobrir os sinais da sua presença discreta, mas germinal de energias novas. Está vivo nos gestos de amor e de perdão, no acolhimento das diferenças legítimas e sua valorização, na paz que é fruto da justiça solidária, no empreendedorismo criativo pautado pela ética humanista, no exercício do poder feito serviço generoso em prol do bem de todos, na assembleia dominical que celebra a eucaristia.
A sabedoria da vida germina e cresce no jardim do Ressuscitado. Vale a pena fazer esta experiência humilde e libertadora.