Crónica de Maria Donzília Almeida
Na hora da poda |
Constitui uma mais valia no desempenho profissional e uma ferramenta de rentabilização dos recursos humanos num qualquer setor de atividade, quer no primário, no secundário ou no terciário.
No âmbito da minha atividade, visa a melhoria da qualidade do ensino e constitui uma exigência da tutela da educação. A valorização profissional dos docentes é, através de um investimento na formação contínua, uma das medidas que se consideram prioritárias. A gestão do ensino e o sucesso educativo constituem o núcleo central da atividade docente. Pretende um melhor desempenho dos professores, com vista a prepará-los para os desafios que a constante evolução social e tecnológica nos apresenta.
Sem prejuízo de outras alternativas adotam-se como modalidades de formação os cursos, as oficinas (workshops), os círculos de estudos e passam a reconhecer-se modalidades de formação de curta duração. A formação com recurso a metodologias de ensino à distância e ao estabelecimento de redes através de plataformas eletrónicas são considerados eixos a privilegiar nas diferentes modalidades de formação.
A formação contínua tem como objetivos, promover: a satisfação das prioridades formativas dos docentes, tendo em vista a concretização dos seus projetos educativos e curriculares e a melhoria da sua qualidade e da eficácia; a melhoria da qualidade do ensino e dos resultados da aprendizagem.
Foi neste âmbito e porque pretendo manter-me sempre, na crista da onda, que resolvi fazer mais um investimento na minha formação. Considerando que as competências de um professor são, como quer a tutela, nas políticas educativas atuais, cada vez mais abrangentes, porque não aprofundar os meus conhecimentos em jardinagem? Praticada apenas como hobby, carece de fundamentação/atualização teórico-práticas, para ser mais profícuo o meu desempenho.
Para além do mais, nunca se sabe se a tutela da educação não seguirá as pisadas do Ministério da Saúde e irá, um dia (?!), contratar, em part-time, profissionais já retirados do mercado laboral, para suprir as carências do sistema quer em qualidade quer em idoneidade! Um cargo de consultadoria para os espaços verdes do AEGE, seria muito aliciante!
Foi assim que brotou a ideia, peregrina (?), de realizar uma ação de formação, na modalidade de workshop numa das vertentes daquela atividade – A arte de podar. Para isso, apenas precisei de calendarizar com um formador idóneo e com larga experiência no ramo.
Numa tarde livre, em quarto minguante, como mandam as regras, eu e o Sr João Cirino, o podador oficial do meu pomar, encetámos a sessão de trabalho. Com a tesoura de poda em punho, formanda e formador puseram mãos à obra.
Concentrei toda a atenção nas explicações que o mestre dava a quem tinha noutros tempos sido a sua teacher, o que dava um gozo enorme ao protagonista deste novo papel. Houve muito boa disposição durante a realização da atividade, mas uma dúvida me ficou no final da ação: será que vou obter nota positiva? É verdade que primei pela pontualidade, interesse, empenhamento, participação, parâmetros básicos em qualquer sistema de avaliação de conhecimentos, mas a arte de podar não se aprende assim do pé p’rá mão! Apesar de o formador ter sido muito eficiente na abordagem do tema, de usar uma linguagem muito acessível à formanda, puxa! Não me foi muito fácil diferenciar um galho que irá dar bom fruto, de um galho ladrão que é um alvo a abater, logo destinado ao corte. Falta-me o olho clínico e o traquejo do formador, resultantes da sua já larga experiência.
Devo referir, a título de curiosidade, que este interesse dos professores por áreas que, à partida não terão muito a ver com o seu desempenho docente, é transversal a muitos profissionais. Ainda no decurso da formação de adultos, o professor de Português foi aluno do Sr João Cirino na mesma arte de podar, dedicando a essa aprendizagem uma tarde do seu fim de semana.
Como dizia o meu paizinho, “O saber não ocupa lugar!” e aprende-se até morrer, especialmente os professores que são os aprendentes, por excelência.