quarta-feira, 25 de março de 2015

Diabruras do Scott — O felizardo


Crónica de Maria Donzília Almeida

O felizardo

Sou um Vira-latas assumido!
É o que diz a minha dona com convicção, mas sem qualquer desdém. Sim, que um cão que se preza sabe interpretar o olhar e os gestos dos humanos que nos rodeiam. Quando a minha dona se aproxima de mim e me faz carícias atrás das orelhas e no dorso e me olha com aqueles olhos de carneiro mal morto, eu sei o significado disso.
Não obedeço aos critérios de educação dos cãezinhos bem comportados, domesticados, que são uns paus mandados na mão dos donos. Se me apetecer, corro à vontade pelo espaço amplo, atrás dos carros ou motas que passam na rua, a tentar apanhá-los. Quando me dá na real gana, passeio-me à chuva, para grande desgosto da dona que me diz que vou ter problemas de reumatismo! Para me convencer a resguardar-me da chuva, até colocou um revestimento de alcatifa, no canil, de fibra natural, a caruma ali do bosque! E para não ganhar fungos, muda-a regularmente…é só conforto! De vez em quando, quando menos espera, encontra-me refasteladinho na caminha, sobre a alcatifa fofinha a cheirar a pinho! Só quando me apetece!



Vivo num espaço aberto, onde posso correr à vontade sem atropelar ninguém, mas…..ah…que saudades de voltar para a rua, donde fui resgatado por uma família italiana. Cá na minha moradia, tenho todas as mordomias que um canino pode ambicionar, comida, água sempre fresca e renovada e umas sombrinhas para me refugiar da canícula.


Quando observo os cãezinhos a passar na rua, dá-me ganas de correr atrás deles e juntar-me à matilha, ter toda a liberdade do mundo! Já tentei várias vezes evadir-me do meu cãodomínio fechado, fiz escavações na vedação, fugi para a rua. A minha dona vai aos arames quando eu a meto nessa alhada e fica em polvorosa! Chama-me ingrato, cabeça no ar e outras coisas que tais…mas admito que tem uma paciência de Job e deve mesmo gostar muito de mim. Lá vem ela com falinhas mansas, a passar-me a mão p’lo pelo e a tentar conquistar-me ao redil. Eu aí, deixo vir ao de cima o meu lado humano… sou interesseiro! Tenho ração completa, cama, mesa e ainda os mimos todos que me dá. Além disso sou tido em alta consideração, eu bem sei! Até acho que a minha dona é um pouco convencida – pensa que tem o cão mais bonito da rua e arredores! Diz que sou alto, bem apessoado(!?), tenho um pelo louro, lustroso e tenho uma personalidade vincada. Já o meu antecessor, o Boris era tratado como um gentleman! Temos de ser cãodescendentes com os humanos!
Apesar de pertencer à categoria dos bons malandros, de que a dona gosta, já adquiri alguns hábitos de civilidade. Já não me atiro à dona quando ela entra no meu espaço, como fazia no início, para lhe lamber o nariz e fazer-lhe festas, pois sujava-lhe a roupa. Agora já aprendi a respeitá-la e passeio-me tranquilamente ao lado dela, ou corro à frente, a seguir os carros. Passei a ser lambe-mãos, em vez de lambe-botas! Quando anda nas suas tarefas de jardinagem, no meu cãodomínio, já que ela considera tudo um jardim alargado, lá me passa a mão p’lo pelo e eu gooosto! Fico todo derretido e esparramado ao lado dela, à espera que dure…dure! Ela acha piada e diz que eu lhe faço boa cãopanhia!
Qualquer objeto serve de brinquedo p’ra mim, às vezes é um pauzito, uma pinha, ou…as luvas da minha dona! Ainda, há tempos, lhe roubei uma luva acabadinha de estrear, que ela tinha colocado no losango da rede, para atender o telemóvel. Veio atrás de mim a procurá-la, mas está quieto! Fiz fintas com a luva na boca, e no fim enterrei-a na terra. Tenho a minha reserva de brinquedos bem guardada e de vez em quando, no papel de arqueólogo, lá vai emergindo um ou outro. Foi o que aconteceu com a luva que apareceu mais tarde, mas… com um dedo arrancado! Em vez de se zangar... a dona ainda sorriu! Eu sabia! Ela nunca me castigou pelas minhas maldades! Diz que são apenas diabruras, tal como as dos seus alunos. Nada que se compare com as patifarias dos homens!
A dona até já pensou pôr-me uma flor no pelo, para se lembrar do Scott Mckenzie da sua juventude. Ele há cada uma, na cabeça das mulheres! O que me vale é que isso ainda eleva mais a minha reputação, aos olhos da raça humana!
Sou um bom cãopanheiro… um cão feliz e dou o meu cãotributo para a felicidade dos homens!

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