Um livro coordenado
por Anselmo Borges
“Deus ainda tem futuro?” é um livro coordenado por Anselmo Borges, padre e docente da Universidade Coimbra, que vem a lume com edição da Gradiva. Trata-se de uma obra que reflete o colóquio internacional Igreja em Diálogo, que se realizou em Valadares, Gaia, em outubro de 2013.
Li o livro na sequência de outros de Anselmo Borges, tal como leio, com muito gosto, semanalmente, as suas crónicas que saem no Diário de Notícias, aos sábados, e que transcrevo no meu blogue Pela Positiva. E se essas leituras me agradam, seria egoísmo de minha parte não as partilhar e recomendar aos habituais visitantes e leitores da área que ocupo no ciberespaço.
Quando a obra foi anunciada nos mais diversos meios da comunicação social, devo confessar que o título, com interrogação, — “Deus ainda tem futuro?” — seria uma “provocação”, no sentido editorial do termo, pois não podia deixar de despertar curiosidade e, logicamente, interesse, tanto junto dos crentes como dos que gostariam de encontrar razões para as suas descrenças. Eu, porém, que leio há muito o coordenador do livro, mantive-me tranquilo. E dos capítulos, quase todos, que já digeri, posso afiançar que se trata de uma obra que merece leitura atenta e meditada.
Anselmo Borges, na Introdução, vem com uma questão levantada por Karl Rahner, a que o próprio teólogo responde: «O que aconteceria, se a simples palavra “Deus” deixasse de existir?» E a resposta foi: «A morte absoluta da palavra “Deus”, uma morte que eliminasse até o passado, seria o sinal, já não ouvido por ninguém, de que o Homem morrera.»
O coordenador desta edição de “Deus ainda tem futuro?”, que reflete o Colóquio Internacional realizado no Seminário da Boa Nova, em Gaia, afirma que contou com a participação «de especialistas de renome internacional, crentes e não crentes, já que, como sublinha, citando o filósofo Paul Clavier, «a existência de Deus é um assunto demasiado sério para ser confiado exclusivamente aos crentes».
Eduardo Lourenço, no Prefácio, depois de algumas considerações em que reconhece, no Ocidente, «uma desertificação religiosa sem precedentes», evoca «a tremenda solidão das multidões modernas», garantindo que dessa solidão brotou «um rebanho silencioso sem mais controlo que o de robots implacáveis, como nos Tempos Modernos de Charlot».
Eduardo Lourenço conclui deste modo o seu Prefácio: «Do silêncio de Deus que nós mesmos criámos não virá nenhum socorro. É diante dele como Ausência suposta e Presença agostinianamente mais interior a nós mesmos do que nós que somos convocados para fazer prova de vida. E de vida eterna. A única que nos ajuda a suportar todas as ausências dos que nesta vida nos foram, à maneira de Dante, reflexos de uma Luz mais clara que a do sol e das estrelas.»
“Deus ainda tem futuro?” apresenta-nos especialistas em diversas áreas como Jean-Paul Willaime, Carlos Fiolhais, Miguel Castelo-Branco, Leandro Sequeiros, Javier Monserrat, Raul Valadier, Juan Masiá, Isabel Gómez-Acebo, José Arregi, Diego Gracia, André Torres Queiruga e José Ignacio González Faus. Javier Monserrat e José Ignacio Gómez Faus não participaram no colóquio, mas enviaram os seus textos a pedido de Anselmo Borges.
São 333 páginas com capa de Carlos Machado e Moura (imagem) e Armando Lopes (arranjo gráfico). Traduções de Maria do Carmo Carpenter e Filomena Couto Soares.
Fernando Martins