por Senos da Fonseca
Uma paisagem natural de espanto para o olhar
“Laguna — Património Mundial?” é um desafio lançado a todas
as gentes ligadas à Ria de Aveiro, direta ou indiretamente, por Senos da
Fonseca, um ilhavense que vive
intensamente a problemática lagunar, abordando os mais diversificados temas.
Neste Natal, avançou com a ideia, provavelmente utópica para
uns tantos e garantidamente pertinente para muitos mais, de nos unirmos
na defesa da integração da laguna no rol honroso do Património Mundial da
Humanidade, sendo necessário conjugar esforços do povo e forças vivas, rumo ao
desejável objetivo de se chegar à meta
com êxito.
Senos da Fonseca avança com dez razões que justificam a sua
proposta de projeto que se quer ganhador, onde destaca que «A laguna foi (e é) um fenómeno
natural raro, praticamente único», que desde o início «captou a atenção do
homem», enquanto lhe propôs «um árduo desafio de aproveitamento das imensas
potencialidades».
Diz que «A Laguna foi um prodígio de desafios para novas
actividades atraindo populações vindas de áreas geográficas muito
diferenciadas», e que, «com culturas muito diversas, se alaparam em seu redor».
Refere que a Ria «foi ventre fértil» que
proporcionou, durante séculos, riquezas
de âmbito regional e nacional, de que destacou a «exportação salícola», as
partida das «primeiras embarcações europeias à Terra Nova para a pesca do bacalhau»
e a construção naval.
O autor do texto em que se expõem as razões que justificam o
esforço de se preparar a candidatura da Ria de Aveiro ao pódio de Património Mundial
sublinha que na história de dar «novos mundos ao mundo» Aveiro esteve presente,
quando afirma que a caravela, «antes de ser a embarcação das descobertas, já
era a “caravela pescareza”», com «uma das suas bases de desenvolvimento» na
zona aveirense.
Senos da Fonseca salienta a riqueza do húmus que da laguna
saiu para fertilizar os solos, das «mais belas e prodigiosas embarcações, nadas
e criadas na sua beira», das artes da pesca, nomeadamente, da Xávega que
estendeu «litoral abaixo, ensinando os locais a manobrar tão ensarilhada arte
num mar quase sempre inquieto e pouco sossegado». Abordou a questão do trajo
lagunar com o seu historial cultural e «singular único», onde se retrata «a
subjacente imaterialidade que lhe
está ligada e que urge recuperar».
Garantiu que «a cultura lagunar moldou diferentes tipos humanos,
vindos de diversas partes», que por aqui se fixaram com os seus «credos, religiões e até raças», frisando que «A Laguna é um depósito onde coexistem habitats naturais,
importantes e representativos, para a conservação in situ da diversidade
biológica, incluindo aqueles que abrigam espécies ameaçadas que possuem um
valor universal excepcional, do ponto de vista da ciência ou da conservação».
A finalizar o seu desafio, o autor chama a atenção para a
imperiosa realidade que se impõe, face ao risco da extinção da laguna, já que
«só uma classificação supra nacional será capaz de obviar». A Laguna deve pois
merecer, de pessoas e instituições, de políticos, autarcas, cientistas, académicos, ambientalistas e simples apaixonados pela Ria um
empenho redobrado, porque ela é «uma paisagem natural de espanto para o olhar».
Fernando Martins