Reflexão de Georgino Rocha
Alegrai-vos no Senhor é apelo constante da mensagem do 3,º domingo do Advento, apelo fundamentado em razões sólidas e convincentes que reforçam a tendência natural de cada pessoa para a alegria humana. De cada pessoa e de sua família e outras formas associativas surgidas ao longo da história. Nascemos para a alegria, ainda que a vida e as suas circunstâncias e percursos pareçam desmenti-lo, provocando situações de tristeza, amargura e morte. Infelizmente, o mapa geográfico e social do mundo actual atesta e comprova esta dolorosa verificação.
Alegrai-vos no Senhor como Isaías, um dos profetas no exílio dos judeus na Babilónia, pois o tempo da desgraça está prestes a acabar e a era de felicidade já se descortina: os corações feridos e amargurados sentem próximas a cura e a consolação; os prisioneiros e os cativos já saboreiam o sonho da libertação tão intensamente esperada; a justiça começa a despontar como os rebentos das árvores na primavera e estender-se-á a toda a terra. A festa universal será o rosto da nova situação, da liberdade alcançada e da verdade vivida, do respeito por toda a criação, da harmonia entre os povos, da paz envolvida no manto da justiça. Lindo sonho do profeta que “exulta de alegria no Senhor”. Bela profecia que fica a apontar o rumo da história humana e a iluminar os seus terríveis desvios.
Por que não apregoamos bem alto este ideal da humanidade e deixamos que se agudizem situações de violência, de opressão e de morte? A força do apelo/convite precisa de ser revigorada. Agora é a nossa vez. Aproveitemos esta oportunidade. Escutemos o Papa Francisco: “Já não escravos, mas irmãos”, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz a celebrar no dia 01de Janeiro de 2015.
Alegrai-vos no Senhor como Paulo que exorta os cristãos de Tessalónica a corresponderem assim à vontade de Deus, vontade que se expressa e realiza em Cristo Senhor e no Seu Espírito. São estes que nos legam continuamente riquezas espirituais abundantes: a fé a fazer crescer ( e não a deixar extinguir), os dons do discernimento e interpretação a aperfeiçoar (e não a descuidar ou a manipular), a integridade a conservar irrepreensível ( e não a conspurcar com toda a espécie de sujeira), a santidade a prosseguir na fidelidade ( e não a acomodação na zona de conforto psicológico e religioso). Alicerçai a vossa alegria nos pilares inamovíveis da vida interior, espiritual, e não na satisfação cosmética exterior do instante efémero, embora inebriante.
Evangelizar a alegria, que urgência! No íntimo dos corações, nas celebrações familiares, nas bodas de casamento, nas festas populares, nos eventos sociais, nas fases marcantes da vida, nas horas dolorosas e turbulentas, nas assembleias cristãs.
Alegrai-vos no Senhor como João Baptista, o homem do deserto, que confessa a verdade do seu ser aos enviados dos judeus, verdade que é fruto da humildade e do amor, que afirma identidades, clarifica funções e evita confusões, verdade que realinha expectativas e testemunha certezas. Os enviados dos judeus obtiveram resposta para as suas perguntas perturbadoras e transmitiram-na diligentemente. Resposta despida de enfeites. Sou a voz que clama no deserto: endireitai o caminho do Senhor. Resposta que tem de passar do deserto selvagem à cidade da vida, onde tantas “águas” precisam de ser encaminhadas para irrigarem a aridez das relações sociais, a secura de corações endurecidos, a couraça fria da indiferença, a solidão enregelada, e tantas outras desumanidades. Resposta que na cidade civilizada tem de fazer ecoar a voz do bem que se faz, a felicidade que se gera, a justiça que se pratica, a solidariedade que se promove, “a alegria do dar e o prazer de quem recebe”.
De facto, Cristo Jesus – o Menino de Belém – é a fonte da alegria cristã, resposta para o coração humano que, inquieto, deseja o seu encontro jubiloso.