Reflexão de Georgino Rocha
Fizeste-nos, Senhor, para Vós,
e inquieto andará o nosso coração
até em Vós repousar
“Vinde, Senhor Jesus” constitui uma síntese feliz do encontro da aspiração humana com o desejo expresso por Deus conservado nos textos bíblicos e, agora, proclamado na Igreja, sobretudo nas celebrações dominicais. Condensa a atitude de confiança suplicante do povo crente ao longo do Antigo Testamento, sobretudo dos sábios e dos profetas. E também das pessoas que se encontram com Jesus nos caminhos, nas aldeias e cidades da Palestina. E ainda das comunidades nascidas do testemunho e ensino dos Apóstolos. E da Igreja orante em todos os tempos, especialmente no Advento. Encontro que desvenda a nossa matriz mais original que Santo Agostinho, de modo belo e acertado, resume ao afirmar: Fizeste-nos, Senhor, para Vós, e inquieto andará o nosso coração até em Vós repousar.
A vinda de Jesus e consequente acolhimento nosso é apresentada nas celebrações do Advento: nos dois primeiros domingos, surge a vinda futura definitiva, gloriosa, escatológica; nos dois últimos, a vinda ocorrida na história, em terras da Judeia na era do rei Herodes, vinda revestida de simplicidade, pobreza, discrição, silêncio. É apresentada para avivar a consciência humana de uma outra vinda: a que se realiza na vida quotidiana, no amor à verdade, na relação solidária, na atenção libertadora dos oprimidos, na dedicação generosa ao próximo, na escuta atenta da Palavra, na participação na assembleia dominical, no testemunho público de uma vida íntegra e aberta a todos os que Deus ama e quer servir.
Sempre que destes a ajuda necessária a quem precisava, foi a Mim que a destes, garante Jesus na avaliação final das nossas vidas. Linguagem clara, acção de proximidade, reconhecimento valorativo. Cultivemos esta certeza e demos-lhe força com as nossas atitudes.
Como Paulo na 1ª carta aos cristãos de Corinto, reconheçamos esta vinda de Cristo que nos enriquece de graças e dons, e nos chama à comunhão com Ele. Abramos o coração dizendo: Vinde, Senhor Jesus! Não percamos a oportunidade, nem deixemos que nos adormeçam as aspirações mais profundas com “produtos” e cantares de outros sabores e ritmos.
Vinde e manifestai a verdadeira dignidade humana, espelho da vossa humanidade divinizada; despertai a consciência comum chamada a captar o sentido do que está contido nos acontecimento e nas situações da vida; captar e a intervir para que seja reconhecido o seu valor e, sendo necessário, colmatar as lacunas e os desvios que reduzem os horizontes da realização feliz de todos/as e desfiguram a beleza da criação inteira.
“Vinde, Senhor Jesus!” implora confiante a assembleia cristã após a consagração do pão e da vinho na celebração da eucaristia; implora porque acredita que já veio e se faz tudo pela salvação de todos/as e de cada um/a; implora porque reconhece que está chamada a ser como Ele e a viver na sua plenitude; implora porque quer manter-se irrepreensível no dia-a-dia e aguardar em serena e jubilosa esperança o encontro definitivo com Cristo Salvador.