Um livro de Ana Maria Lopes
“Diário de bordo da bateira ílhava: A construção” é mais um livro de Ana Maria Lopes, com coordenação editorial de Álvaro Garrido e edição da Câmara Municipal de Ílhavo/Museu Marítimo de Ílhavo. Trata-se de um trabalho de 36 páginas, em bom papel e muito ilustrado, sobre um barco «associado à lendária diáspora dos ílhavos por ter sido embarcação de migrações litorâneas», como se informa na contracapa.
A bateira Ílhava, muito da nossa laguna e seus canais, chegou a navegar «nas praias e portinhos do sul há mais de um século», lê-se naquele espaço, mas desapareceu de cena há bastante tempo. Daí a boa ideia de a trazer até aos nossos dias, graças a uma louvável iniciativa da Associação dos Amigos do Museu (AMI), «que ousou desafiar o mestre António Esteves a construir uma Ílhava no seu estaleiro da ribeira, em Pardilhó».
Como diz o título, o diário de bordo refere-se à construção, tendo a autora, meticulosa como é, registado passo a passo todo o processo, com rigor e cuidado, não lhe faltando a cooperação da AMI, nomeadamente, Aníbal Paião, João Reinaldo, Nelson Santos, David Calão, Vitorino Ramalheira, Marques da Silva e, naturalmente, Ana Maria Lopes. Ainda participou, como convidado, Senos da Fonseca, outro entusiasta por estas matérias e profícuo escritor e estudioso de temas relacionados com a nossa terra, suas gentes e artes.
De 6 de junho de 2013 a 11 de janeiro de 2014, sete meses apenas, dia da apresentação da bateira Ílhava aos ílhavos, foi uma lufa-lufa de canseiras, trabalhos, preocupações, dúvidas e busca de certezas, mas também de alegrias, próprias de ressurreição, que o foi de facto. Uma embarcação que nasceu na nossa laguna, que migrou e conheceu outros ambientes, acabou por morrer de morte natural, sem honra nem glória, com é justo admitir, renasceu e voltou à sua terra natal para ser apreciada pelos ílhavos e visitantes do museu marítimo.
É justo frisar, como o faz a autora, a iniciativa da AMI que estudou, elaborou, supervisionou e custeou todo o projeto, que enriquece condignamente a Sala da Ria do Museu de Ílhavo. Afirma Ana Maria Lopes que na construção da célebre bateira, em Pardilhó, «foi imperativo manter o processo construtivo, os materiais e acabamentos tradicionais, fidedignos com a realidade de outrora», tendo garantido que «A réplica da bateira “ílhava”, em ambiente museológico, transmite através do sistema construtivo, dos materiais, da sua forma e história funcional, um conjunto de elementos de cariz etnográfica, identitários da nossa região».
Por tudo isto, impõe-se uma visita ao Museu de Ílhavo para apreciar a “Ílhava” e não só.
Fernando Martins