Crónica de Maria Donzília Almeida
Maria Donzília Almeida |
Para o ignorante, a velhice é o inverno da vida;
para o sábio, é a época da colheita.
Talmude
Primeira, ou terceira idade?
Que importa se há juventude?
Não tenham de mim piedade,
Na meia está a virtude!
Muita tinta já correu sobre o tema em epígrafe e particularmente sobre a melhor designação desta faixa etária: para uns é a meia, para outros, a terceira idade. Sendo um dado adquirido que ninguém gosta de ficar velho, é também uma verdade incontestável que a única forma de viver mais é ir somando anos, que mais não é que envelhecer. Cada um tem da sua idade, uma perspetiva muito própria, sobretudo se se aproxima ou está no limiar do crepúsculo da vida.
Fazendo um paralelismo com a natureza, em que o fim do dia é o culminar de todo o esplendor do astro-rei, quando este mergulha no oceano como uma espada de fogo a abraçar o horizonte, assim é a plenitude do ser humano, na idade madura.
Prefiro usar o eufemismo Idoso para designar uma pessoa de terceira idade. A Organização Mundial da Saúde classifica, cronologicamente, como idosos as pessoas com mais de 65 anos de idade em países desenvolvidos e com mais de 60 anos de idade nos países em desenvolvimento.
É frequente as pessoas idosas apresentarem algumas limitações, alterações físicas e emocionais que conduzem a uma certa fragilidade, sendo objeto de estudo da gerontologia. Algumas doenças degenerativas, nomeadamente o Alzheimer e o Parkinson, que afetam as pessoas idosas são o campo de estudo da geriatria.
No mundo inteiro, o número de idosos está a crescer rapidamente, o que traduz um envelhecimento progressivo da população mundial. Isto é mais evidente nos países desenvolvidos e apenas neste particular, Portugal emparceira ao lado dos mais ricos do planeta.
Atualmente, a terceira idade e a velhice são encaradas de uma forma completamente diferente de algumas décadas atrás. Normalmente uma pessoa sente-se a envelhecer, quando atinge os 60 ou 70 anos, quer devido ao acréscimo de problemas de saúde quer devido à diminuição das suas aptidões físicas e mentais.
Outras pessoas porém, afirmam que envelhecer não as afeta e neste espírito positivo, vão-se mantendo jovens, cultivando hábitos saudáveis. Há ainda pessoas que sabem envelhecer e que se orgulham de dizer a todos a idade que possuem. Para estes, o envelhecimento é aceite como uma consequência inevitável da sua passagem pelo mundo e um momento alto de fruição da vida.
Estudos recentes indicam que envelhecer é, paradoxalmente, sinónimo de rejuvenescimento, de atividade, autonomia e independência. Nas sociedades modernas, existem condições médico-sociais que proporcionam uma vida mais confortável à condição do idoso. É de louvar, neste âmbito, o contributo do poder local atribuído às autarquias, no pacote de medidas e programas tendentes a valorizar e apoiar a Maioridade. Esta sente que não é um peso para a sociedade, mas antes a resultante do contributo valioso que lhe foi prestado.
É de extrema importância que não se deixe o espírito envelhecer. É salutar que se mantenha ocupado com algum tipo de atividade. Hoje em dia, há uma oferta enorme de possibilidades para o idoso se ocupar, mediante os seus gostos e preferências. Quanto a mim, contemplo dois grupos de atividades que me preenchem o tempo: tarefas que implicam esforço físico como a jardinagem, horticultura e agropecuária e as tarefas que têm a ver com a atividade intelectual: leitura, escrita, pesquisa.
Ainda há bem pouco tempo, um amigo que completou 68 anos me confidenciava, que não sentia o peso da idade, mas em espírito se sentia “um miúdo”! Aí, eu corroborei, justificando que a nossa atividade docente foi uma ginástica exemplar no treino e na flexibilização da nossa mente! Perdoem-me o narcisismo aqueles que não pertencem à nossa classe!
Constata-se que a velhice é encarada por alguns como algo negativo, contudo todos devem ter consciência de que a marcha do tempo é inexorável e um dia há de chegar a sua vez . Assim, o envelhecimento deve ser encarado como uma dádiva da vida, um estado que nem todos atingem. Maior longevidade não é um fatalismo ou uma ameaça. É uma vitória da humanidade e uma oportunidade de potenciar o património imaterial que significa o contributo do conhecimento empírico das pessoas mais velhas.
No contexto das consequências e desafios que a maior longevidade acarreta, a Organização Mundial da Saúde adotou, no final século 20, o paradigma “Envelhecimento Ativo”, entendido como processo de cidadania plena, em que se otimizam oportunidades de participação, segurança e uma maior qualidade de vida. Passa-se de uma visão reativa, centrada nas necessidades básicas da pessoa como agente passivo, para uma pró-ativa que reconhece a pessoa como um elemento capaz e atuante no processo político e na mudança positiva das sociedades. Neste sentido, o envelhecimento ativo exige uma abordagem multidimensional e constitui um desafio para toda a sociedade. Implica a responsabilização e a participação de todos, no combate à exclusão social e à discriminação e na promoção da igualdade entre homens e mulheres e da solidariedade entre as gerações.
Para atenuar as agruras da terceira idade, lá vem solícito o estado misericordioso e social, acenar com o rebuçado dos benefícios a partir dos 65 anos, na forma de descontos em vários serviços e bens, como nos transportes públicos, nos espetáculos culturais, etc. Uma gota de água num oceano de esquecimento, mas na perspetiva da terceira idade...migalhas é pão!
28.10.2014