No sábado, 5 de junho,
no Jardim 31 de Agosto
Casa Gafanhoa no cenário |
As tradições têm pernas para andar e para dançar
Na cerimónia de abertura do XXXI Festival Nacional de Folclore da Gafanha da Nazaré, que se realizou na Casa Gafanhoa, Alfredo Ferreira da Silva, fundador e presidente do Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN), deu as boas-vindas aos grupos convidados, a quem desejou uma estada agradável na nossa terra. Manifestou o desejo de que o jantar que iria ser servido fosse do agrado de todos, acrescentando que o GEGN nasceu no seio da catequese paroquial, de que muito se orgulhava. O festival propriamente dito teve cenário e palco no Jardim 31 de Agosto, onde se exibiram o Rancho Folclórico e Recreativo de Vilarinho (Mondim de Bastos), o Grupo Folclórico de Creixomil (Guimarães), o Grupo de Danças e Cantares Regionais da Feira (Vila da Feira), o Grupo Folclórico “As Tricanas de Ovar” (Ovar) e o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré.
Ferreira da Silva teve a gentileza de me oferecer uma lembrança, gesto habitual que agradeço |
Depois da entrega de lembranças e da visita à Casa Gafanhoa, ouvimos a vereadora da Câmara de Ílhavo, Beatriz Martins, que fez votos de que «o GEGN continue a manter as tradições, passando-as para os nossos jovens». Acrescentou que, com a juventude, teremos a garantia de que as tradições «têm pernas para andar e para dançar». Disse que importa divulgar os usos e costumes que nos foram legadas pelos nossos antepassados, «não os deixando morrer e chamando gente até nós». E não se esqueceu de evocar o contributo dos grupos e ranchos das nossas terras, imprescindíveis na difusão dos legados dos nossos avoengos. «Nesta área, somos tão ricos, num Município que é tão pequeno», referiu. E como nota curiosa afirmou que, segundo a sua experiência, a nível do folclore, «há mais jovens a participar do que a assistir aos espetáculos».
Miguel Almeida faz parte da família
do Grupo Etnográfico
Miguel Almeida |
Os amantes da etnografia e em especial do folclore, na verdadeira aceção da palavra, sabem que o apresentador do Festival de Folclore da Gafanha da Nazaré, há 31 anos organizado pelo nosso Grupo Etnográfico, é Miguel Almeida, de Viseu, um profundo conhecedor destes temas. Começou há 29 anos a colaborar com o Etnográfico e hoje «faz parte da família», sendo uma mais-valia para o espetáculo, já que, ao anunciar cada intervenção, tem sempre a palavra certa, esclarecedora e estimulante, tanto para quem sobe ao tablado para exibir danças e cantares de tradições regionais diversas, como para quem se dispõe a assistir.
No passado sábado, 5 de julho, tivemos o cuidado de o entrevistar, não só pelo ineditismo desta colaboração, mas também pela sua contribuição, ao nível da Federação do Folclore Português, como coordenador do Conselho Técnico Regional de Viseu, Beira Alta, Dão e Lafões, cargo que lhe permite contactar sempre que necessário os grupos e ranchos folclóricos ligados à Federação do Folclore Português, para que os mesmos respeitem com fidelidade às tradições das regiões a que pertencem. «Sou conselheiro e não fiscal seja do que for», disse.
Em resposta à questão sobre como nasceu em si o gosto pela etnografia e em especial pelo folclore, Miguel Almeida começou por garantir que há décadas «até nem gostava destas coisas». «Estava ligado ao teatro e ao jornalismo; a partir de certa altura, senti que as instituições do folclore não tinham a projeção que deviam ter, apesar de haver muita gente envolvida no movimento; e comecei a escrever Temas do Folclore Distrital». A partir daí foi «apanhado pela gente do folclore», frisou.
Mesmo sem nunca ter pertencido a qualquer grupo ou rancho folclórico, chegou a conselheiro da Federação, sendo o único, porventura, nessa posição e na qualidade de independente. «Não sendo de nenhum grupo, é de todos», referiu.
Miguel Almeida recorda os tempos em que muitos consideravam «o folclore como coisa para parolos; e talvez por isso mesmo é que me armei um pouco em defensor da bela-dama». Mas de imediato acrescentou: «Há pessoas (especialmente os políticos) que tinham obrigação de estar mais preparadas e sensibilizadas para compreenderem a importância das tradições do povo português, que são marcas da nossa cultura, teimando em ficar indiferentes.» Entretanto, definiu os grupos folclóricos como «referências culturais e bandeiras das suas regiões por todo o país e até pelo estrangeiro».
Fernando Martins