Crónica de Maria Donzília Almeida
Casa de Serralves |
O Porto como cidade multicultural sempre
foi um pólo de atração para estrangeiros vindos de vários quadrantes do mundo.
Evoca-se aqui o grande afluxo de famílias
inglesas que se fixaram no Porto, no século XVIII, ligadas à produção e
comercialização do, mundialmente afamado, vinho do Porto.
A vida da alta burguesia inglesa foi fielmente
tratada por Júlio Dinis, no século XIX, no seu conhecido romance “Uma Família
Inglesa”.
Com paladar suave, encorpado e doce, o
Vinho do Porto é a bebida escolhida para apadrinhar as mais diversas
comemorações, não faltando em nenhuma casa portuense e portuguesa.
Internacionalmente conhecido como o néctar
dos deuses, é produzido na região demarcada dos vinhos do alto douro.
Assim, o deserto árido, coberto de mato e
arbustos, deu lugar a uma das mais fascinantes paisagens humanizadas de
Portugal e do mundo.
É nas encostas sobranceiras e nos vales que penetram para o interior a partir das duas margens que se geram os vinhos, de que resulta o requintado, apetecido e generoso duriense.
É nas encostas sobranceiras e nos vales que penetram para o interior a partir das duas margens que se geram os vinhos, de que resulta o requintado, apetecido e generoso duriense.
O reconhecimento da sua essência data do último
quartel do século XVII, quando viajantes e comerciantes, principalmente de
origem inglesa, se aperceberam das características singulares dos vinhos
produzidos na região. Vinhos doces e densos começaram a ser exportados e o seu
cultivo foi fortemente incentivado.
O
vinho do Porto, juntamente com outros motivos de interesse, fez da Invicta
Cidade um centro de fixação de muitos estrangeiros.
Um deles frequentava a Escola Preparatória
Dr Leonardo Coimbra (Filho), ali mesmo ao lado da famosa Casa de Serralves, em
1984, integrando uma turma de 6º ano a quem eu lecionava Português. Ficou-me
gravado, na memória, aquele petiz de tez morena, cabelo liso, preto de azeviche
e uma postura de gente muito crescida. E, como a memória é seletiva e guarda o
que o coração ordena, gravou o nome Aslam
Sadrudine Jamal. Conhecido pelo surname,
apenas, destoava naquela turma de tripeiros, pelo exotismo do nome devido à sua
nacionalidade persa. Muito compenetrado do seu papel, convivia com os demais
alunos da turma, numa relação de igualdade, harmonia e perfeita integração. Era
nos tempos em que a disciplina e os valores a ela associados ainda vingavam e
as aulas decorriam em ambiente amistoso, sem sobressaltos.
Se por lá também houve discípulos rebeldes
e perturbadores, não me chegam registos desse tempo, pois a memória se
encarregou de os apagar. Não vale a pena carregar más recordações que só obscurecem
o display da nossa tela mental,
confirmando aquilo que tantas vezes ouvi ao meu progenitor: “Dos fracos não
reza a história!”
A imagem do Jamal, apesar dos anos volvidos, permanece nítida... como num
espelho.
24.02.2014