Dadas as condições económicas precárias num Portugal rural, no século passado, (e hoje?) houve um grande surto de emigração para países europeus, bem como para alguns do continente americano, nomeadamente os Estados Unidos da América. Este funcionou no imaginário de muitos proletários, como a verdadeira “árvore das patacas”!
A presença portuguesa nos Estados Unidos remonta ao século XVI, quando o navegador Miguel Corte Real aí chegou pela primeira vez e João Rodrigues Cabrilho explorou a costa da Califórnia.
No século XVIII um grupo importante de descendentes de judeus portugueses, perseguidos pela inquisição em Portugal e depois no Brasil, fixou-se em New York, na altura, New Amsterdam, fundando ali a primeira comunidade judaica da América do Norte. Porém, só se pode falar de uma efetiva emigração portuguesa para o país, a partir de meados do século XIX.
Entre 1820 e 1970, emigraram para os Estados Unidos 446 mil portugueses, grande parte deles oriunda da Madeira e dos Açores. Esse número integrava um avultado contingente de habitantes das Gafanhas que sofria, como no resto do país, de falta de oportunidades de emprego, para aspirarem a uma vida com dignidade.
O número de Portugueses nos EUA atinge 1,3 milhões, estando a diáspora lusitana representada em todos os estados, sendo a Califórnia, o estado com maior população. Em New Jersey, na costa atlântica, também há uma grande concentração de Portugueses, sendo a cidade de Newark a mais representativa. Todos os emigrantes que conheço são lá residentes. A Ferry Street é o equivalente à nossa Rua Professor Francisco Corujo e o cenário das comemorações do Dia de Portugal. Lá, quase nem é preciso ser falante da Língua Inglesa, basta falar a língua materna e sempre haverá um português a entendê-la.
Desde o início, o continente americano surgiu, aos olhos dos europeus, como um Novo Mundo, uma terra de oportunidades infinitas.
Na perspetiva de certos grupos religiosos, nomeadamente os Puritanos, a América era a Terra Prometida, destinada por Deus para seu proveito. Era um território selvagem, e portanto puro, embora por vezes adverso, uma dádiva divina aos eleitos. Os peregrinos do Mayflower, que em 1620 estabeleceram a primeira colónia em território norte-americano, eram Puritanos. Por outro lado, a América, grande em todas as dimensões, era o espaço da utopia. Representava a oportunidade de se criar uma sociedade justa, fraterna e tolerante, sem opressão. Este ideal, com uma componente mais ou menos religiosa, foi assumido pela cultura dos Estados Unidos da América e é, de há muito, um dos seus elementos fundamentais.
O American Dream também teve o reverso da medalha e nem sempre correspondeu às expetativas dos que o acalentaram.
Assim, já em finais do século passado e no incipiente século XXI, se tem verificado um retorno às origens e a vinda de jovens famílias com os seus descendentes Luso-Americanos.
Na escola, são integrados em turmas de níveis diferentes e têm-me chegado alguns para o 5º ano de escolaridade. Constituem uma mais-valia nas aulas de inglês, já que para eles a língua não é de iniciação, mas está num nível mais avançado. Falam fluentemente, exibindo o American accent que constitui uma especificidade linguística a identificar pelos nossos alunos. Nomes como Michael, Jason, Dilan, Shayne, Carol, Cindy, Sylvia, Nicole e outros trouxeram o colorido do Stripes and Stars símbolo do país do Tio Sam.
É sempre aproveitado o seu contributo para rentabilizar as aulas, que deste modo, ganham outra dinâmica, com a presença de native speakers.
Para obviar ao enfado que seria para eles a iniciação à Língua Inglesa, a teacher utiliza-os como um manancial de recursos humanos, numa leitura modelo que fazem dum texto, numa explicitação de termos desconhecidos para os colegas, enfim numa variedade de situações. Com esta integração e vendo a utilidade prática do seu papel, todos ficam a ganhar, os portugueses nativos e estes jovens luso-descendentes no retorno às origens e à planura das Gafanhas.