De acordo com várias fontes, a região das Gafanhas começou a ser habitada por modestos agricultores no século XVII, havendo registo de um batizado, em 1686, como sinal de que as pessoas começaram, antes dessa data, a viver nestes areais dunares.
Em 1758 era já uma povoação com 14 vizinhos ou fogos e 140 pessoas de sacramento, como se lê em carta de Joaquim da Silveira publicada, em nota de rodapé, na Monografia da Gafanha, 2.ª edição, com data de 1944, do Padre João Vieira Rezende, primeiro prior da Gafanha da Encarnação.
As pessoas que na Gafanha se instalaram, nos inícios do povoamento, eram gente humilde, oriunda dos concelhos de Vagos e Mira, que buscou terras para cultivar, semelhantes às dos seus antepassados. Com esforço sobre-humano, os gafanhões conseguiram transformar dunas estéreis em solo produtivo, aproveitando os moliços que as marés depositavam na borda-d’água e o esterco. Nesses tempos, os gafanhões não se aventuravam na ria e no mar, mas cedo descobriram a riqueza que dali podia advir. E a adaptação, paulatina mas corajosa, prova à evidência que este povo possuía capacidades para vencer todos os obstáculos, como de facto continuou a acontecer.
A certeza de que os primeiros habitantes vieram dos concelhos de Vagos e Mira está bem patente nos apelidos que perduraram até aos dias de hoje: Domingos da Graça, Vechinas, Rochas, Ritos, Covas, Merendeiros, Caçoilos, Sarabandos, Esgueirões, Maguetas, Estanqueiros, Apolinários, Carapelhos, Frescos, Patas, Cardosos, Costas, Retintos e Creoulos, entre outros.
Toda a Gafanha começou por pertencer ao Concelho de Vagos, assim permanecendo até março de 1835, altura em que passa a depender religiosamente de Ílhavo. Em 31 de dezembro de 1853, a Gafanha é integrada civilmente em Ílhavo, mas tudo se mantém sem alterações até que, por decreto de 24 de outubro de 1855, foram definidas as fronteiras entre aqueles concelhos vizinhos.
Em 19 de setembro de 1856, o movimento paroquial de Ílhavo considera a Gafanha como povoação em crescente desenvolvimento, quer sob o ponto de vista demográfico, quer agrícola, sendo os seus produtos, especialmente a batata, preferidos nos mercados de Aveiro e Ílhavo, conforme lembra Leite de Vasconcelos, na Etnografia Portuguesa.
Em 23 de junho de 1910, por decreto de D. Manuel II, e em 31 de agosto do mesmo ano, por provisão canónica do Bisco-Conde de Coimbra, D. Manuel Correia de Bastos Pina, são criadas a freguesia e a paróquia da Gafanha da Nazaré, sendo nomeado prior o Padre João Ferreira Sardo, o primeiro gafanhão a concluir um curso superior, ao nível dos estudos eclesiásticos. E a igreja matriz, uma humilde capelinha situada na Chave, deu lugar à atual igreja, construída no centro geográfico da freguesia e paróquia, tendo sido inaugurada em 14 de janeiro de 1912.
O seu desenvolvimento sempre crescente, graças decerto à abertura da Barra de Aveiro, em 3 de abril de 1808, e à implantação dos portos de Pesca Costeira e Longínqua, Comercial e Industrial, viabilizou a elevação a vila em 1969 e a cidade em 2001, em atenção à importância económica e social da Gafanha da Nazaré, no contexto regional e até nacional.
Podemos sintetizar, dizendo que a Gafanha da Nazaré deve o seu incremento ao esforço dos gafanhões e a todos os que, durante várias gerações, na freguesia se instalaram, vindos um pouco de todo o país. Agricultura, Obras da Barra, Estaleiros, Oficinas, Empresas de Pesca, Salinas, Obras Públicas, Construção Civil, Escolas e toda uma panóplia de pequenas indústrias, comércio e serviços atraíram gentes de mais de mil povoações de Portugal e do estrangeiro.
Entretanto, com a entrada na UE, que levou ao desmantelamento da frota pesqueira, e não só, com grande implantação na nossa região, os gafanhões, uma vez mais, souberam readaptar-se às novas circunstâncias, não só enveredando por outras atividades profissionais, mas também emigrando.
Fernando Martins
Gafanha da Nazaré,
dezembro de 2013
PS: Notas escritas para o "Projeto Educativo do Agrupamento de Escolas da Gafanha da Nazaré 2014-2017"