Crónica de Maria Donzília Almeida
para o Dia dos Namorados
Gosto de pensar no amor
na terceira idade como um renascer
As intempéries que têm vindo a assolar-nos, neste inverno tenebroso, tanto na meteorologia como na política deste país, têm dado o seu contributo para o humor depressivo deste povo paciente! São muitos os contratempos que a natureza nos tem apresentado e a capacidade de tolerância e encaixe vão diminuindo.
O inverno é mesmo assim, taciturno e melancólico. Mas, alegremo-nos, pois vem aí a efeméride que tem o condão de nos tirar deste torpor depressivo em que mergulhámos.
O Dia de S. Valentim, mais conhecido por Dia dos Namorados, já que estes pouco se importam com a figura do santo, aí vai estar com pompa e consumismo.
As superfícies comerciais rejubilam com este evento, já que fazem medrar os seus rendimentos. As montras exibem toda uma panóplia de artefactos, que satisfazem os gostos mais requintados e fazem as delícias dos apaixonados.
Os restaurantes, apesar da crise económica em que o país está mergulhado, não têm mãos a medir neste dia, para jantares românticos e encontros cheios de glamour.
E, se os mais desfavorecidos da sorte não têm os meios económicos para celebrar pomposamente o dia, mesmo assim não faltará o condimento essencial para a satisfação própria e a partilha dos sentimentos. O amor será o mote das celebrações e novos e velhos, ricos e pobres, todos irmanados na comemoração, enfatizam o Amor.
Até aqueles que durante muito tempo viram negada a aceitação de outras formas de relacionamento, têm agora, a concretização e a tolerância por parte da sociedade.
Se o ênfase é posto nos arroubos da juventude, deve também referir-se que o amor está presente e é vivenciado doutra maneira, na idade madura. Diz-se que o amor não tem idade, que não há outra razão para amar senão amar.
No entanto, somos muitas vezes prisioneiros da ideia de que há idade certa para tudo. Se o tempo tem as suas regras e determina se somos crianças, adolescentes ou idosos, não é tão certo ao traçar o momento para amar.
O mundo desenha-se sob as mais diversas formas de amar e nós mortais, insistimos em negá-las como se tivéssemos medo de um fim anunciado.
Gosto de pensar no amor na terceira idade como um renascer, um despertar de sentimentos, sensações, prazeres. Nesta, há outra maturidade, outra serenidade que permitem a fruição do amor na sua forma mais elevada, mais transcendente.
Sob a inspiração do amor, esqueçamo-nos da chuva e celebremos, com a esperança e a convicção, de que nos esperam dias radiosos de sol na primavera que se esconde já nos rebentos de uma planta.
14.02.2014