Carro enfeitado com presentes |
Apesar da chuva, a festa saiu à rua
para adorar o Menino
A chuva estragou a festa do Cortejo dos Reis, mas a caminhada dos Reis Magos e seus séquitos, com pastores e povo para adorarem o Menino-Deus, aconteceu no domingo, 12 de dezembro, como havia sido programada. Este ano, com a Aparição do Anjo para anunciar o nascimento do nosso Salvador na igreja de S. Pedro, na Cale da Vila.
Seguindo trajeto habitual, a partir dali, com muita gente munida do seu guarda-chuva e outros resguardos, que o frio também marcou presença, os autos do costume foram apresentados, com o último, no palácio de Herodes, junto à igreja matriz. Depois, foi o momento alto da festa, com a cerimónia da adoração do Menino. Reis Magos à frente com os seus séquitos e pastores com a sua expressividade natural junto ao presépio, todos beijaram o nosso Salvador, ao som de lindíssimos cânticos natalinos, alguns dos quais vêm do tempo dos nossos avós. O leilão dos presentes oferecidos ao Menino realizou-se no salão Mãe do Redentor, com o despique da praxe, para entusiasmar os eventuais compradores.
Varina em traje festivo (Rosa Cova)
Manuel Sardo, membro do Conselho Económico e Pastoral, participa no Cortejo há dez anos, nove dos quais assumindo o papel de Rei Herodes e de 1.º pastor, tarefa que desempenha com gosto porque gosta de teatro. Curiosamente, foi uma doença que o aproximou do Cortejo dos Reis. «De baixa, por causa de uma perfuração no estômago, já estava farto de estar em casa; um dia pensei: vou até ao ensaio do cortejo; e foi tal o ensaio, que pegou de estaca, e nunca mais larguei» — garantiu-nos. Disse-nos que não tem havido falta de gente preparada para os autos e demais tarefas do Cortejo, sendo certo que, na ausência de algum ator, por razões imprevisíveis, há sempre quem o substitua.
A juventude esteve presente |
Manuel Sardo confirmou aquilo que todos sabemos: «Sem os autos, o Cortejo dos Reis ficaria muito mais pobre; é bom ver a criançada da catequese nesta festa; é um momento cultural que as pessoas da Gafanha da Nazaré adoram; e temos bastantes jovens.» Ainda considerou muito interessante a forma como o Cortejo «arrasta tanta gente».
Segundo a tradição, os que participam no Cortejo dos Reis esforçam-se por se apresentar vestidos a condizer com os papéis que lhes cabem oficialmente, enquanto outros teimam, e bem, em trajar cada um a seu gosto. Rosa Cova, com responsabilidades na comunidade paroquial, fez questão de exibir um traje bonito, de varina em dia festivo. Segundo ela, trata-se de um traje que aprecia bastante, que não é novo. O prazer de participar vem de há muito, desde quando, como educadora, levava os meninos e meninas da sua escolinha a integrarem-se nesta festa. Confirmou que durante o trajeto não viu muita gente na rua, provavelmente por causa da chuva, frisando que tudo o que se passa no Cortejo, com autos, música e cantares próprios da quadra, é muito importante, mas o momento mais expressivo é o beijar do Menino.
O Pedro Fidalgo, sacristão da nossa igreja matriz, é um incansável colaborador desta tradição centenária. Tanto quanto sabemos, prefere agir um pouco na sombra. Há muito tempo que ele anda a trabalhar para o Cortejo, transformando-se num exímio padeiro, com a colaboração de algumas pessoas, nomeadamente, a Milu a Mariana e o Manuel Sardo. Mas ele é o chefe. No seu forno cozeu 750 folares, cuja venda, depois de deduzidas as despesas, reverteu para a receita global desta festa, que ano a ano sai à rua.
A Sandra Pinho, catequista, também participou, mas a sua participação exigiu preparação, já que era importante sensibilizar os seus meninos e meninas da catequese. «Gosto muito porque acho que devemos manter as tradições; ainda ontem estive a convencer alguns pais para darem oportunidade aos seus filhos de ao menos participarem uma vez no Cortejo; tem de ser a nossa geração a dar continuidade a esta festa da comunidade, numa altura em que as gerações mais antigas começam a ficar cansadas», lembrou a Sandra.
Fernando Martins