Uma reflexão de Georgino Rocha
“Imediatamente” é a expressão usada no Evangelho de Mateus para indicar a reacção dos irmãos Pedro e André, pescadores do mar da Galileia, ao apelo/convite de Jesus para o seguirem. O mesmo acontece a outros dois irmãos Tiago e João, filhos de Zebedeu. “Vinde e segui-me”, diz-lhes Jesus indicando o que pretendia confiar-lhes: serem pescadores de homens, libertos da estreiteza da faina enredada e abertos à largueza dos horizontes da missão itinerante.
A que se deverá esta prontidão? À vontade de aliviar o cansaço da rotina sem futuro, à fama incipiente de Jesus em Cafarnaum, à novidade da mensagem anunciada na pregação, ao desejo secreto do coração humano sempre inquieto na busca da verdade e do bem, ao olhar penetrante de Jesus e à força convincente do seu apelo? Será difícil apontar uma razão objectiva, mas o narrador do episódio destaca que “Jesus viu” e, assim, despertou energias adormecidas e motivou decisões ousadas.
Que alegria não sentiria Jesus ao ver-se correspondido! Ele que havia deixado Nazaré por ouvir dizer que João, seu primo, tinha sido preso e, quem sabe, temendo que algo semelhante lhe acontecesse. Ele que sentia a ressonância da sua recém iniciada actividade pública de anunciar a chegada do Reino e a necessidade da conversão. Ele que sonhava com a constituição de um grupo de discípulos e manifestava a preocupação de lhes proporcionar uma formação adequada a fim de serem os que, em seu nome, haviam de ser luz para o povo que vivia nas trevas. Escolheu-os “para estarem com Ele e para os enviar a pregar”.
“Imediatamente” é palavra estranha no mundo de hoje, apesar das pressas em que todos andam, do zapping saltitante, do apreço pelo efémero e pelo instante. Não é ao nível do corre-corre imponderado que os discípulos reagem; mas do impulso profundo, do desejo espontâneo, do cuidado solícito, da aventura partilhada, da nova experiência intuída e desejada. E como Jesus, deixam tudo e põem-se a caminho. Querem seguir os seus passos de missionário itinerante, rumo a cidades e aldeias, onde o povo aguarda pacientemente a luz da esperança e da alegria.
A atitude dos discípulos espelha o modo do Senhor Jesus proceder connosco: Pensa em nós, faz-se próximo, provoca o encontro, identifica as pessoas que conhece pelo nome, vê o seu coração/consciência e acredita na sua bondade, lança-lhes o apelo: “Vinde Comigo”. Assim nasce a vocação. Assim se prepara a missão. A iniciativa é de Deus. A resposta é do homem/mulher. E eles deixando tudo, seguiram-n’O. Belo exemplo, admirável apelo!