Longevidade
Maria Donzília Almeida
Maria Donzília Almeida
Simone de Beauvoir
É um dado adquirido que a partir de certa idade, a idade madura, muita gente não gosta de fazer anos, sem negar a evidência que todos gostam de continuar a viver! Dizia-me, há algum tempo, um amigo que a única forma de atingir a longevidade é... fazer anos!
A marcha do tempo é inexorável, todos o sabemos e inevitável é a correspondente erosão da saúde, com os indesejáveis efeitos do envelhecimento.
Na hierarquia das idades, ou fases etárias do ser humano, há uma que é vista de soslaio por muita gente, tanto por aqueles que já entraram nela, como por outros ainda muito distantes e cuja imaturidade lhes assegura/garante (!?) uma ambicionada eterna juventude - a terceira idade!
Quer queiramos quer não, a velocidade a que o Chronos se move é a mesma para todos os cidadãos, apenas cada um se situa no seu ponto particular do percurso.
A idade madura ou terceira idade é contada a partir dos 60 anos, tendo sido durante muito tempo considerada uma boa meta para a cessação da atividade laboral. Mercê de políticas economicistas e de restrição de despesas tem vindo a ser alargada, atropelando, a esmo, pessoas e princípios.
A aposentação é uma etapa na vida duma pessoa, de viragem, não de estagnação nem de desistência da vida.
Foi a partir da década de 90 do século passado que se começou a falar e a divulgar o conceito de envelhecimento ativo.
Há mais vida para além dos 60 e hoje a sociedade aposta e valoriza, cada vez mais, a contribuição das pessoas idosas. Constituem um repositório precioso de sabedoria e experiência que só por insensatez se pode desvalorizar.
Envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida, à medida que as pessoas envelhecem.
O fenómeno do envelhecimento demográfico emerge como um desafio social assumindo lugar de destaque nas agendas sociais e políticas. A sua importância foi reconhecida pela ONU, pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia.
Formas saudáveis de alimentação e a prática regular de exercício físico garantem a manutenção de uma boa saúde e, por consequência, o padrão de qualidade de vida por que todos anseiam.
Estudos feitos mostraram que a dieta vegetariana, da qual sou fã, sem ser fundamentalista, está associada a um menor risco de doenças crónicas: hipertensão, diabetes, doença isquémica do coração e mortalidade por doenças renais.
Uma nova pesquisa da Harvard Medical School sugere, também, que a dieta mediterrânica pode propiciar uma vida mais longa e saudável.
Para cultivar o exercício físico, aí estão, em força, as danças de salão! Dançar, na terceira idade, não é só uma maneira divertida de mexer o corpo. Força, ritmo, agilidade, equilíbrio e flexibilidade também são desenvolvidos e trazem bem-estar e saúde aos idosos. Além disso, evocam-se experiências e sensações vividas no passado, nos famosos bailes de garagem, em que a música era o fator aglutinador da juventude.
Para corroborar tudo o que referi sobre a longevidade, apresento um claro exemplo da sua concretização, numa pessoa de quem tive o grato prazer do convite para a sua festa de aniversário. Refiro-me ao Sr Diamantino Sarabando, cujo aniversário ocorreu a dois de janeiro, dentro do calor festivo das comemorações natalícias.
Apesar de um dia muito preenchido, não pude faltar a uma tão importante efeméride. O salão da festa abarrotava de gente, cerca de 60 comensais e eu sem ser da família também aí marquei presença. O Sr Diamantino com a invejável lucidez e presença de espírito que lhe são peculiares, fez questão que a herdeira do seu malogrado amigo, Zé da Rosa, também estivesse presente na sua festa/convívio.
De conversas havidas com o centenário ancião, em amenas cavaqueiras ao calor da lareira, pude constatar que... a longevidade também se constrói, de afetos, dedicação, envolvimento familiar! E, neste contexto, o Sr Diamantino é um vivo exemplo de que o amor faz milagres e ... centenários. Toda a sua família esteve presente nesta homenagem, inclusive uma filha, emigrante nos EUA que viajou, propositadamente para a realização do evento.
Para mim, uma amiga recente que observa a envolvência familiar do ancião, a coroa de louros vai para aquele que é o seu cuidador permanente, a tempo inteiro e dedicação exclusiva, nas palavras genuinas e que brotam do coração: “O meu filho Zé...é uma r’queza!”
11.01.2014