Georgino Rocha |
Afirmação clara e conclusiva que desmonta a armadilha que os saduceus lançaram a Jesus e que visava ridicularizá-lo em púbico. Alegre notícia, portadora de fé e de esperança, para o coração humano inquieto com o futuro da vida. Mensagem encantadora que desvenda o rosto autêntico de Deus, o Senhor da vida, no qual todos vivem para sempre. Resposta feliz e apelo solícito que partem de Jerusalém e, ao longo da história, se prolonga por todo o mundo, despertando energias adormecidas em toda a humanidade abrindo-lhe horizontes novos e definitivos.
O grupo dos saduceus configura, de algum modo, o conjunto de pessoas que pretende garantir a sobrevivência do ser humano por meio da descendência. E daí, apoiados na lei do levirato (cf. Dt 25,5-10), a historieta que inventam. Morre o marido e não deixa filhos. Como fazer para que os bens não se dispersem e, sobretudo, a sua memória perdure longamente? A resposta encontrada esgota as hipóteses plausíveis. Sete é número de plenitude. A descendência é a forma mais nobre encontrada pela razão humana, superando modos muito apreciados por outras culturas: plantar árvores, gravar nomes em pedras, construir monumentos, escrever pergaminhos ou livros. Esta diversidade põe em evidência a aspiração fundamental do ser humano que nasce para viver e não para morrer, para conservar a sua integridade original e não para se dissolver na podridão final.
Esta aspiração vital é satisfeita plenamente na comunhão com o Deus da vida de que fala Jesus. Para Ele todos estão vivos. A prova-lo fica o testemunho dos patriarcas e do próprio Moisés, que havia prescrito a lei do levirato. A razão é simples: se eles estão em Deus fonte da vida, todos vivem, todos participam desta fonte inesgotável.
Alguns saduceus, ao ouvirem o ensinamento de Jesus, comentam: “Foi uma boa resposta, Mestre” e sobre o assunto ninguém mais tem coragem de fazer qualquer outra pergunta. Para os discípulos a questão é assertiva e estimulante. A vida humana, sendo nossa por natureza, é dom de Deus, sagrada, portanto. A natureza pessoal tem ritmos no tempo e vai-se consumindo. Chega a hora de passar ao ritmo novo e definitivo, qualitativamente diferente: o ritmo da vida eterna, da comunhão plena na família de Deus, onde se encontram todos os humanos que deram resposta positiva, embora com modalidades muito plurais e diferenciadas, ao amor que Deus nos tem. Buscar outras saídas para o nosso futuro pessoal e colectivo é fruto apreciável da razão humana que fica sempre às portas do grande mistério, desvendado por Jesus na magnífica resposta que dá aos saduceus.
A única morte que Deus conhece é resultante do pecado, recusa consciente e livre do amor que Deus nos tem e se manifesta em opções indignas da sublime condição humana revelada por Jesus Cristo. Recusa que desvirtua o projecto original com práticas de mentira em vez da verdade, de corrupção em vez da integridade, da marginalização em vez da inclusão, da aversão e do ódio em vez do acolhimento e do amor.
Para Deus, todos estão vivos. Alegre notícia a comunicar a todos. Verdade sublime a envolver-nos em tudo.
Georgino Rocha