No Museu Marítimo de Ílhavo
As memórias da pesca do bacalhau tardaram a surgir no espaço público. Crónicas e imagens permaneceram guardadas enquanto foi tempo de luto. Lentamente, quando a arca se abriu, uma após outra começaram a enriquecer-nos de histórias, alimentando uma herança cultural infinitamente rica, jamais revelada nas suas inúmeros capítulos de drama épico. Não muitos homens que andaram ao bacalhau construíram e partilharam memórias escritas e visuais, oferecendo-as em simultâneo. E poucos as produziram com o desassombro narrativo com que o faz o Capitão Valdemar Aveiro, homem de muitos talentos, ilhavense como quase todos os que governaram navios da lendária frota bacalhoeira portuguesa.
Autor de quatro livros memoriais sobre a “grande pesca”, todos ilustrou com expressivas fotografias feitas por si, preciosos testemunhos da vida a bordo nos mares setentrionais, da vida que este homem do mar viveu, sempre à sua maneira, teimosamente, de moço-pescador a capitão, sulcando todo o mar que se lhe deparou, dobrando e vencendo.
O homem e o seu navio, poderia ser outra a essência destas imagens? Tripulante de vários navios, é o Coimbra, arrastão da Empresa de Pesca de S. Jacinto, empresa armadora a que Valdemar Aveiro permaneceu ligado até aos dias de hoje, que mais exprime e sente nestas trinta e seis fotografias. A partir delas e de tantas outras que fez, evoca a pesca do bacalhau por artes de rede, retrata pescarias afortunadas e dias fartos, a máquina do arrasto cavando o Oceano, os homens do convés e da ponte, a dura nobreza da vida de mar que será sempre a sua.
Álvaro Garrido
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