HOJE ESTARÁS COMIGO NO PARAÍSO
Georgino Rocha |
Jesus responde com esta certeza/promessa à súplica do condenado à morte que está crucifixado à sua direita. A súplica brota do reconhecimento da inocência de Jesus, injustamente sentenciado. Não assim ele e o seu parceiro de aventuras malfeitoras. “Lembra-te de mim quando vieres com a tua realeza”, pede confiante, após ter censurado o colega pelos insultos e imprecações que vociferava.
“Lembra-te de mim” é prece que tem sentido profético e ecoará por todo o tempo, fruto dos corações silenciados pela violência torturante, pela fome e pelas doenças esgotantes. Os países mais pobres do mundo ou mais fustigados pelos cataclismos ocupam, hoje, o lugar e erguem a voz daquele condenado: Somália, Sudão do Sul, Haiti, Bolívia, Filipinas, República Centro Africana; a onda dos imigrantes indocumentados, dos sem trabalho nem quaisquer garantias sociais, dos doentes sem apoio médico e medicamentoso, dos idosos descartáveis, dos escravizados, das crianças sujeitas às mais vis sevícias e tantos outros “perseguidos” pela indiferença de muitos e pelas garras do poder. Escutar e dar resposta é respeitar a humanidade, viver a solidariedade, potenciar a fraternidade. E está ao alcance de todos, sobretudo de quem, autorizado pelo povo, detém o poder. Sejamos humanos, escutemos os gemidos dos nossos irmãos!
“Hoje estarás comigo” é garantia dada por Jesus, o agonizante que, em breve, iria morrer e ressuscitar. Estar com ele participando do seu reino, da sua felicidade repartida ao longo de toda a vida em missão e, agora, prestes a entrar numa dimensão qualitativamente diferente. Estar com ele deixando-se cair nos braços do Pai como o filho pródigo que regressa a casa, Estar com ele confiando como os leprosos que mendigam a cura sanadora e como Madalena que chora os seus pecados. Estar com ele entregando-se sem reservas para ser conduzido ao paraíso como a ovelha tresmalhada e encontrada que, aos ombros do seu pastor, é transportada e reconduzida ao rebanho.
O reino de Jesus visualiza-se na novidade que estas situações indiciam: apreço pelo sentido da vida, abertura ao futuro de Deus que, por sua bondade, será também o nosso, relação filial com Deus e fraterna com todos os/seres humanos, serviço generoso adequado à necessidade de cada pessoa, sobretudo dos mais vulneráveis, respeito por todas as criaturas e por toda a criação. Enfim, a harmonia do universo!
O reino de Jesus é realizado germinalmente e por antecipação na sua vida terrena. A festa de Cristo Rei celebra esta feliz novidade: O amor que se faz serviço até à morte de cruz, a afirmação clara da verdade integral, a riqueza dos silêncios bem geridos, a paixão firme pelo bem-estar dos outros, a bondade e a misericórdia para com todos. Um Rei que desvenda horizontes humanizados a todos os que querem servir o povo organizado em sociedade, sociedade aberta ao futuro definitivo que já brilha, de modo exemplar, em Jesus Cristo e nos santos, seus amigos e nossos modelos.
Georgino Rocha