Hoje em dia, em que a escola portuguesa se debate com o problema crescente da indisciplina, com a dificuldade em controlar o comportamento dos alunos, vem, novamente à ribalta, o debate “Nature Versus Nurture”
O que será mais marcante no desenvolvimento infantil? A genética ou a experiência?
O debate sobre este tema é dos mais antigos da psicologia. A questão está centrada na contribuição relativa da herança genética e dos fatores ambientais, no desenvolvimento humano.
Os filósofos Platão e Descartes sugerem que certas coisas são inatas na pessoa, ou então ocorrem fortuitamente, apesar da influência ambiental. As opiniões dividem-se entre os “nativistas” que defendem que as características e o comportamento individual são herdados e os empiristas como John Locke que acreditavam que o conhecimento é impresso numa tábua rasa, isto é, numa mente completamente em branco. Para eles o conhecimento tem por base a experiência.
Quando uma pessoa tem um sucesso académico retumbante, dever-se-á isso a uma predisposição genética para ser bem sucedida na vida, ou isso resultará de um meio ambiente, culturalmente rico? Por outro lado, o indivíduo que se torna socialmente um violador, será que herdou no ADN tendências agressivas, ou foi algo adquirido no convívio com pais violentos?
Um exemplo da teoria nativista é, na conceção de Chomsky, o dispositivo para a aquisição da língua, segundo o qual todas as crianças nascem com uma capacidade mental para a aprendizagem e a produção da língua.
Há certas características ligadas a influências ambientais. O comportamento de uma pessoa pode estar ligado a influências parentais e experiências aprendidas. Por exemplo, uma criança pode ter aprendido, por observação direta, a dizer “please” e “thank you”, enquanto outra interiorizou um comportamento agressivo, pela observação de bullying, no recreio da escola.
Nos dias de hoje, a maioria dos experts na matéria, acredita que o comportamento e o desenvolvimento são influenciados quer pela natureza quer pela educação. Contudo, há áreas onde qualquer destas teorias colapsa, nomeadamente no que toca à origem da homossexualidade e da inteligência.
Um conhecimento crescente do genoma humano veio clarificar a ideia que ambas as componentes têm o seu papel, a sua importância. A natureza dota-nos com certas capacidades inatas, enquanto a educação agarra-as e molda-as de acordo com as nossas aprendizagens e o nosso crescimento.
Pelo que me é dado observar no meu ambiente de trabalho, no real, não virtual, sou levada a acreditar que a genética não mudou assim tanto, quanto os comportamentos evidenciam.
Se calhar, noutros tempos e noutros contextos geográficos, a influência do meio ambiente era mais ou menos determinante, segundo a perspetiva.
Custa-me aceitar, a mim, uma cidadã do mundo, nascida no século anterior, que um meio ambiente tão marcado pelas influências dum avanço tecnológico desenfreado, não prepare os cidadãos de hoje, para uma outra postura perante a vida.
Reportando-me aos meus tempos de menina estudante, havia uma ausência total de dispositivos eletrónicos, tendo eu feito o percurso académico, na íntegra, sem, até, a presença da “caixinha mágica”! E eu, que tanto gostava de praticar a língua inglesa, com a visualização dos filmes americanos, no pequeno ecrã! Já havia televisão, é claro, mas não em casa dos pais, nem no alojamento na cidade universitária! Mas posso considerar-me uma sortuda, pois já não precisei de estudar à luz da candeia a petróleo, como aconteceu ao meu professor Paulo Quintela, que veio a ser o maior germanista do século XX..
Não foi por isso que me tornei avessa e refratária às novas tecnologias, que hoje nos facilitam/dificultam (!?) a vida. A recente aquisição dum tablet atesta-o!
Com tanta informação/formação que se encontra à distância de um click do rato, não se admite que haja tanta ignorância/desrespeito/intolerância pelo outro e seus direitos.
Hoje sabe-se tudo, mas não se digere nada. Tem-se acesso a tudo e nada, ou quase nada melhora a performance pessoal, nos seus aspetos políticos, sociais, morais. Vive-se num mundo de mediocridade, de protagonismo balofo, de ausência de valores.
Mas... poderemos nós culpar as criancinhas, quando os exemplos deveriam vir dos pais? Dos políticos que nos norteiam e a cada passo (Passos?!) se contradizem?
Em quem acreditar? A que setor deveremos atribuir as culpas? Nature or nurture?
Mª Donzília Almeida
20.09.2013