Hoje, 21, neste último dia de verão, com temperaturas cálidas para acabar a estação, em beleza, muita gente deve ter aproveitado o prolongamento, para dar uns bons mergulhos nas nossas belíssimas praias. Já que não sei nadar nas águas do Atlântico, onde correria o risco de me afogar (!?), dei um mergulho, não menos revitalizante e agradável, no “Mar de Camões”.
A minha veneração, do grande vate, proporcionou-me, hoje, um banho de cultura, ali ao lado, na cidade contígua.
A exposição de Roberto Santandreu, um fotógrafo chileno radicado em Portugal, fez-nos associar a beleza da poesia camoniana, Os Lusíadas, à arte de um olhar atento, intimista e perscrutador. Com a informação dada pelo autor, ali presente, navegámos nas rotas marítimas que os portugueses, outrora traçaram e tão bem descritas foram por Camões.
Cabos |
Fiquei bastante lisonjeada, como portuguesa, com o facto de um chileno se ter apaixonado de tal modo pela nossa cultura, que tenha feito esta simbiose: inscrições das décimas de “Os Lusíadas” como legenda das próprias fotos. Estas foram tiradas, na sua viagem, a bordo da caravela NRP Sagres e os manuscritos sobre as imagens captadas, são nas palavras do fotógrafo “um tributo ao poeta e aos homens e mulheres da Armada de Portugal...” Obrigada, Roberto Santandreu!
Esta exposição abriu-nos o apetite para uma visita ao referido navio escola, ancorado no porto de Aveiro, ali, a uns escassos km.
Entre marujos |
O NRP Sagres irá estar no Terminal Norte do Porto de Aveiro, abrindo as portas a quem o queira visitar, de 21 a 23 de setembro. Recomenda-se a visita, sobretudo às gerações mais novas, pois é uma fonte de conhecimento e enriquecimento cultural, além de evocarmos a epopeia dos nossos “egrégios avós”.
O NRP Sagres é um grande veleiro com 90 m de comprimento, 3 mastros e armação em barca, construído nos estaleiros navais Blohm & Voss, na Alemanha, em 1937. Navega há 76 anos, 51 dos quais com a bandeira de Portugal. A sua principal missão é assegurar a formação marinheira dos futuros oficiais da Marinha Portuguesa, complementando a componente técnica e académica ministrada na Escola Naval. Para além disso e sem descurar o seu principal objectivo, o navio representa o País e a Marinha no estrangeiro, desempenhando o papel de Embaixada Itinerante de Portugal.
A Sagres é comandada pelo capitão-de-fragata Paulo Jorge Palma Alcobia Portugal, que presidiu à inauguração da exposição “Mar de Camões” com uma delegação do navio. As suas fardas de azul marinho e branco imaculado trouxeram uma lufada de ar fresco, marítimo, ali ao Centro Cultural.
As condições atmosféricas hoje foram esplêndidas para uma visita a esta embarcação. O mar estava chão, o sol dardejava mas não molestava e a conversa com os cadetes fluía amigavelmente. Uma suave brisa marítima era o leque que nos refrescava o rosto!
Grupo NRP Sagres |
Dado que a minha cultura naval é reduzida, aproveito, sempre, estes momentos, para alargar conhecimentos.
Como se trata de um veleiro, é evidente que a existência de cabos para as manobras de içar as velas é de grande dimensão. Bem alinhadinhos estavam os cabos, a que eu na minha ignorância chamei cordas!
— Só há três tipos de cordas, disse-me gracejando o interlocutor: a corda do relógio, a corda do sino e acorda do verbo acordar.
Fui-me inteirando das dificuldades em ingressar na marinha e na exigência feita aos aspirantes à vida do mar. Afinal, é preciso muita força e determinação, muita robustez física e psicológica para se chegar a bom porto. Muita endurance é necessária e não basta ingerir espinafres como fazia o mítico Popeye...the sailor man!
Quando chegou o anoitecer, o céu tingiu-se de tons alaranjados à mistura com nesgas azuis, dando ao mar o encanto, o sortilégio que “atordoou" Camões!
Não admira que este mar e tanto céu o tenham inspirado a uma obra de tal envergadura! Só tu, Camões o poderias ter feito!
Até eu, simples mortal agradeci, ao Criador, aquele crepúsculo de tanta beleza.
M.ª Donzília Almeida
22.09.2013