CURIOSIDADE
Ontem, dia de compras na cidade vizinha, deparei com algo que já não via, há séculos! Numa grande cesta, à entrada do mercado, deliciei-me na contemplação de pequenas bagas entre o transparente, o rosa claro e o rosa mais forte. Parecia um saco de pérolas, em vários cambiantes, apetitosas à vista e ao paladar.
Camarinha ou camarinheira (Corema album ou Corema album ssp. azoricum) é uma planta da família das Ericáceas, embora apareça associada à família das Empetráceas. As flores surgem de março a junho, masculinas e femininas em plantas separadas, mas são tão pequenas que passam quase despercebidas, sendo a sua polinização assegurada pelo vento. A ramagem liberta uma intensa e doce fragrância a mel dos deuses! Os frutos surgem em pleno julho, agosto e setembro, pequenas drupas brancas, semelhantes a pérolas, comestíveis, constituindo um apetitoso festim para animais silvestres e para humanos atentos e sensíveis à beleza natural. Noutros tempos, eram vendidos por mulheres, em diversas zonas balneares do país, em cartuchos de papel, às medidas, tal como hoje.
É um endemismo ibérico, sendo frequente em sistemas dunares ou matas baixas de pinheirais, ocorrendo desde Cádiz ao Algarve.
Trata-se de uma espécie em perigo, com um enorme potencial enquanto planta ornamental.
Infelizmente encontra-se muito pouco estudada e são escassas as referências a esta planta, sendo no entanto citada por alguns autores como remineralizante, antihelmíntica leve e febrífuga, além de comestível.
Vivemos numa zona privilegiada, onde esta planta se pode encontrar nas matas de Mira, em S. Jacinto e na Torreira.
As camarinhas foram, noutros tempos, conotadas como afrodisíaco, não tanto pelas qualidades químicas das mesmas, mas pelo ambiente bucólico onde se desenvolvem, em época estival, as dunas da praia! “Ir às camarinhas “ soava aos meus ouvidos, vindo da boca de emigrantes de visita à terra natal, como uma toada dolente e agradavelmente repetida.
Tinham, na minha imaginação, uma pertença ao campo semântico da palavra Love, a mesma palavra que aparecia, vezes sem conta, gravada em troncos de árvores, como tatuagem de juras de amor, que crescia ou definhava conforme o sentimento que lhe dera origem.
Abençoadas camarinhas doutros tempos e as que aprecio e saboreio, hoje, à mesa, em minha casa.
Mª Donzília Almeida
26.07.2013
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