Longe vão os tempos em que o alfaiate e a modista/costureia eram figuras de proa, numa sociedade semi-rural semi-piscatória.
Sendo do sexo feminino, detenho-me mais na figura da costureira, pois era essa figura que se deslocava às casas de família, para confecionar, por medida, as peças de vestuário usuais naquele tempo. Fazia-se acompanhar do seu instrumento de trabalho, a máquina de costura, preferencialmente da marca Singer de que existe um exemplar, deixado em herança pelo Zé da Rosa. Nas famílias, com várias raparigas, era frequente uma ser encaminhada para a arte da costura. Era, à altura, uma profissão de certo prestígio social, já que era um trabalho “limpinho” no linguajar do povo das Gafanhas, em contraste com as lides da lavoura ou da seca do bacalhau que empregavam a grande maioria das mulheres desta terra.
Ainda tenho viva, na memória, a costureira da casa, durante anos a fio – a prima Isabel, que costurava, com esmero, os vestidinhos vaporosos que a Mª da Luz imaginava para as suas quatro meninas. Era vaidosa esta mãe de família, na boca das suas vizinhas e conterrâneas que a invejavam pelo seu esmerado gosto. Às vezes, acontecia que a mãe via, nas montras de vestuário de criança, na cidade próxima que na altura era Aveiro, modelos muito atrativos de vestidinhos de criança e conseguia que a Isabel reproduzisse, na íntegra, a peça de referência. Ficaram para a história, os vestidinhos cor-de-rosa, de cinta descida com machinhos e veados bordados a azul, na linha da cintura. Fizeram sucesso, na altura e a Mª da Luz regozijava-se com a vistaça que as suas moçoilas faziam.
Mas, como em tudo na vida, a modista de alto gabarito, constituiu família e outras se sucederam no papel de confeção por medida.
Quis o destino que me cruzasse, na minha atividade pedagógica, no ensino de adultos a que me dediquei durante um bom par de anos, com pessoas muito peculiares e de profissões distintas. Eram adultos que queriam fazer o upgrade dos seus conhecimentos e voltaram, à escola, quando a oportunidade se conjugou com a disponibilidade. Foi uma experiência altamente enriquecedora, que me permitiu conhecer pessoas de muito valor. Refiro-me, neste particular a uma costureira de classe que tal como a Isabel e a Menina Maria dos tempos de juventude, conseguia fazer os modelos que a fiel herdeira da Mª da Luz, criava na sua imaginação fértil e feminina. Foi a autora da elegante toilete confecionada para o evento marcante das bodas de prata da minha vida docente, há uma dúzia de anos. Prima pelo esmero da confeção e perfeição nos pormenores e acabamentos. Apesar da idade madura, está ainda no ativo, tal como a ex-teacher, cheia de vivacidade, dinamismo e vontade de viver. Recomenda-se!
Trata-se duma senhora madura, na idade e na sageza e é portadora dum nome que para mim, tem a polissemia de um significsnte muito doce – Sílvia! Este nome é partilhado, não só pela modista, como também pela esteticista e uma amiga do peito, uma confidente.
Tem a vida, às vezes, esta particularidade – leva-nos a conhecer várias pessoas do mesmo nome, todas com valores acrescidos. Sílvia é também uma ex-aluna, que hoje me cuida do visual e de outros serviços de estética. Mantemos um diálogo amistoso, na língua que aluna e professora praticaram, noutros tempos, em contexto de sala de aula. Aquela mesma língua que um bebé recém-nascido, em terras de sua majestade, há-de falar um dia, como um papagaio! Hoje o ambiente de trabalho é diferente, mas nem por isso a língua inglesa foi esquecida ou relegada para segundo plano.
Boas recordações de tempos em que ensinar e aprender se processavam em períodos de mais acalmia e estabilidade política e social, do que hoje.
Restam as memórias, a amizade e acima de tudo os serviços de qualidade, da costureira e da esteticista.
Mª Donzília Almeida
23.07.2013
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