10 de junho de 2013
Dia de Portugal, de Camões
e das Comunidades Portuguesas
«O Farol da Barra alimentou a minha crença, num halo de saudosismo e romantismo trôpego, e ainda hoje o mito do sebastianismo com regresso do Desejado se mantém num povo triste, amante do fado e predestinado ao fatalismo.»
Maria Donzília Almeida
Neste dia, em que o 13 ominoso nos parece conduzir à hecatombe final, esqueço as Comunidades, perdoo a Portugal e concentro a minha atenção/ devoção em Camões! O grande vate que desde os tempos de criança me marcou, pela influência genética do meu querido progenitor.
Quando se encontrava, no seu leito, já moribundo, Camões teve conhecimento da notícia sobre o desastre português de Alcácer-Quibir, em 1578, tendo balbuciado no ano da sua morte, em 1580, as célebres e fatídicas palavras: “Morro pela pátria e... com a pátria.”
Neste dia assinalado, numa outra guerra, com outras batalhas, comungo do sentimento do meu grande inspirador e choro por esta pátria moribunda!
A Batalha de Alcácer-Quibir, conhecida em Marrocos como Batalha dos Três Reis, foi travada perto da cidade de Ksar-El-Kebir, entre Tânger e Fez, em 4 de Agosto de 1578. Os combatentes portugueses liderados pelo rei D. Sebastião, juntaram-se ao sultão Mulay Mohammed contra um grande exército chefiado pelo Sultão de Marrocos, Mulei Moluco.
No seu fervor religioso, o rei D. Sebastião planeara uma cruzada para ajudar Mulay Mohammed a recuperar o trono, que seu tio Abd Al-Malik havia tomado. A batalha resultou na derrota portuguesa, com o desaparecimento, em combate, do rei D. Sebastião e da elite da nobreza portuguesa.
Este fracasso levou à crise dinástica de 1580, culminando na perda da independência de Portugal, por 60 anos, com a união ibérica sob a dinastia Filipina.
Estivemos seis décadas, sob a alçada dos Espanhóis e ainda hoje, há quem sinta a nostalgia de ter perdido essa nacionalidade. Privei com alguns, no meu ambiente de trabalho. Será que a história teria tido um rumo diferente, se tivéssemos mantido essa união? O orgulho português repudia liminarmente essa tese, com o aforismo popular: “De Espanha, nem bom vento, nem bom casamento!” Será por isso, que eu, com uma apetência marcada por línguas estrangeiras, não ache piada nenhuma à língua espanhola? “Le coeur a des raisons que la raison ne connait pás!" Lá dizia Pascal.
Alcácer-Quibir originou o mito do sebastianismo, que ainda hoje marca este povo triste, à espera de alguém que o virá salvar num dia... Guardo na memória as manhãs frias de nevoeiro, em que a minha imaginação ativada pela ronca do nosso Farol da Barra era transportada aos tempos áureos da corte portuguesa. Visualizava um rei jovem, montado no seu cavalo alazão, a tranquilizar as mentes inquietas dos populares, que o aguardavam, sem rancores nem retaliações. Afinal, este jovem rei fora empurrado pelos seus cortesãos, a assumir as rédeas do poder, sem preparação, nem a maturidade que a idade lhe confere.
O Farol da Barra alimentou a minha crença, num halo de saudosismo e romantismo trôpego, e ainda hoje o mito do sebastianismo com regresso do Desejado se mantém num povo triste, amante do fado e predestinado ao fatalismo.
Hoje… temos políticos bem preparados, em Universidades Modernas e Independentes, com traquejo nas esgrimas parlamentares e que… até são escolhidos pelo povo sábio (!?) em eleições livres e democráticas!
Apesar de tudo, as vicissitudes políticas a que os nossos governantes nos têm exposto, num país caótico, decadente, à beira da rotura, hão-de alimentar o mito e perpetuá-lo, ad aeternum!
M.ª Donzília Almeida
10.06.2013