sábado, 4 de maio de 2013

Deus


SOMOS A MORADA DE DEUS
Georgino Rocha
Georgino Rocha


Jesus está na hora das grandes confidências, pois é o tempo da despedida, de dizer aos discípulos o que lhe vai no coração, e quer deixar como distintivo da sua identidade. Em diálogo franco, faz declarações que suscitam perguntas. Judas, não o Iscariotes, não entende como é que Jesus se vai manifestar nem porque escolhe a quem o irá fazer. E formula a correspondente pergunta a que Jesus dá resposta, abrindo horizontes surpreendentes e interpelantes. Os contemplados são aqueles que acolhem o seu amor e guardam a sua palavra; a estes, Jesus dá a garantia de serem morada de Deus e de receberem o Espírito Santo. Assim, terão companhia em todas as circunstâncias da vida e nada os poderá perturbar. Assim, a saudade da despedida é compensada pela nova forma de presença. E Jesus destaca a alegria como testemunho da fé dos que compreendem o alcance destes factos.


Somos a morada de Deus que vem viver na nossa consciência, no mundo interior de todos os que são fiéis à palavra de Jesus, Seu Filho. Esta opção de Deus evidencia a direcção correcta da realização humana. É a partir de dentro, da interioridade, que se faz a humanização, se alimenta a relação, se aprende a amar, a servir, a crescer na grandeza de ser pessoa. É a partir da consciência iluminada e esclarecida por Deus, mediante os ensinamentos de Jesus e a sabedoria das culturas humanizadas, que têm consistência as opções e os critérios condicionantes das nossas atitudes pessoais e colectivas. É a partir das atitudes que a sociedade manifesta os valores predominantes e a qualidade do sentido da convivência entre os seus membros.
A afirmação é clara e o convite interpelante. Procura dentro de ti e encontrarás o teu melhor tesouro, aquele que te ajuda a ser mais humano, a saber conviver com maior satisfação, a sentir a realização progressiva da felicidade a que aspiras.

Esta orientação fundamental é, frequentemente, contrariada por muitos factores. E surge a preferência pela exterioridade, pela aparência de rostos embelezados, pela dispersão de solicitações encantadas. Assim, a pessoa corre o risco de viver distraída de si mesma, de banalizar a nobreza dos seus sentimentos e de inverter a escala dos valores que pautam a sua vida. Segue o cortejo das satisfações de momento, do ritmo dos humores, da verdade precária e subjectiva, da força imperante da paixão incontrolada. E vai-se transformando num ser agitado pelo “vento”, dependente do impulso da sedução, esquecida do seu ser mais profunda que, de vez em quando, a consciência lhe segreda e o coração vazio reclama.

Conhecedor da fragilidade humana, Jesus cumpre a promessa de enviar o Espírito Santo para recordar e ensinar. Recordar é tornar presente e fazer real a beleza da dignidade humana como espelho do rosto de Deus, é trazer ao coração e apreciar a sabedoria da consciência que em tudo procura agir rectamente. Ensinar é mostrar à inteligência o que está contido nos sinais realizados por Jesus e agora actualizados na história. São sinais de atenção à pessoa e ao seu contexto, à verdade que liberta, à solidariedade que irmana, à oração que eleva, a Deus que sempre nos acompanha.
Quem está desperto para esta presença dinâmica do Espírito vive na alegria e na confiança, aprecia e valoriza a rectidão da consciência e a sabedoria do coração, é cada vez mais humano no seu ser e no seu agir.                

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