Anselmo Borges
Independentemente de se ser crente ou não, ninguém, consciente da presente situação do mundo, em convulsão global e à procura de um novo horizonte de compreensão, porá em dúvida a importância fundamental do diálogo inter-religioso e intercultural em ordem à paz. De facto, como há anos vem repetindo o teólogo Hans Küng, autor principal da "Declaração para uma Ética Mundial", aprovada pelo Parlamento Mundial das Religiões, em Chicago, em 1993, "Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões sem critérios éticos globais. Não haverá sobrevivência do nosso globo sem um ethos global, um ethos mundial."
Em Novembro de 2007, o rei da Arábia Saudita, Abdullah bin Abdulaziz, encontrou-se no Vaticano com o Papa Bento XVI, sublinhando ambos a urgência da promoção do diálogo em ordem à convivência pacífica entre os povos.
No ano seguinte, com o seu patrocínio, realizou-se em Madrid uma Conferência Internacional para o Diálogo.
No dia 26 de Novembro último, na presença de centenas de convidados e de figuras eminentes do universo religioso, cultural e político de todo o mundo, foi inaugurado em Viena o KAICIID (King Abdullah bin Abdulaziz International Centre for Interreligious and Intercultural Dialogue: Centro Internacional King Abdullah bin Abdulaziz para o Diálogo Inter-religiosos e Intercultural). O Centro teve o apadrinhamento dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos sócios fundadores, do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, bem como de representantes das principais confissões religiosas mundiais.
A sede do Centro é Viena. Os fundadores são a Áustria, a Espanha e a Arábia Saudita. A Santa Sé (Vaticano), apoiando explicitamente a iniciativa impulsionada pelo monarca saudita, que dá o nome à instituição, participa como observador fundador. Há um comité directivo, constituído por representantes católicos, protestantes, ortodoxos, judeus, hindus, budistas e os três ramos principais do islão: sunita, xiita, wahabi. Entre os seus membros, conta-se uma mulher, a budista japonesa Kosho Niwano.
Embora seja Riade a financiar o Centro, sediado no Palácio Sturany, o seu secretário-geral, o saudita Faisal bin Abdul Rahman bin Muaammar, afirmou que "não haverá interferências políticas de nenhum tipo", sendo a direcção o único responsável pelas actividades. Aliás, fontes diplomáticas austríacas declararam que o centro faz parte dos esforços do rei saudita para apoiar sectores mais abertos do seu país. Neste sentido, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, J. M. García-Margallo, depois de sublinhar que "o que pretendemos é inverter a situação e que a religião seja, não parte de um problema, mas parte de uma solução", acrescentou que a iniciativa é um fórum de diálogo "não entre religiões, mas entre crentes de diferentes religiões que partilham valores e princípios, em última análise para alcançar um mundo mais pacífico, mais harmonioso e mais estável". O cardeal J.-L. Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, apresentou a saudação do Papa bem como "os seus melhores desejos para o sucesso deste Centro para o Diálogo".
Ontem e hoje, o KAICIID celebra, em Madrid, o seu primeiro acto internacional, com o primeiro encontro do Comité Directivo, a que voltarei.
Quais os objectivos estratégicos do Centro? Dentro da sua missão de "facilitar o diálogo e a compreensão inter-religiosos e interculturais, aumentar a cooperação, o respeito pela diversidade, a justiça e a paz", consistem em "gerar, desenvolver e difundir o conhecimento no âmbito do diálogo inter-religioso e inter-cultural; cultivar e promover o respeito pelas diferenças através do diálogo; criar pontes, debater e promover a colaboração entre os diversos grupos".
Perante tão elevados desígnios, só se pode, sinceramente, pedir: Oxalá! Mas fica, inevitável, a pergunta: para quando uma reunião internacional, com a presença de representantes das grandes religiões mundiais, em Riade?