Realidade velha, problema novo?
António Marcelino
Na Semana dos Seminários interroguei-me. Porque é que jovens
sãos e escorreitos, alguns já com cursos superiores, querem ser padres? A
sociedade não ajuda, a comunicação social desajuda, muitas famílias militam
contra ou sentam-se na indiferença, do ambiente permissivo só se podem esperar
aves de capoeira a rasar o chão, muitas comunidades cristãs querem padre, mas
nada fazem para que o possam ter. Não são muitos os jovens que lutam convictos
e preocupados por um futuro mais liberto e que, sem desanimar, falam do que têm
e do que vivem, sem nostalgias nem sonhos, sempre com realismo e esperança. Os
tempos não são propícios a decisões que impliquem a vida toda, andada por
caminhos com mais pedras do que bom asfalto. Se há jovens que, nestes tempos,
querem ser padres e rumam ao arrepio do que se diz por aí fora, é sinal de que
o húmus que fertiliza vidas não secou. Uma fé adulta e consequente, o sentido
dos outros com significado de dádiva, a liberdade interior solta de amarras, o
coração sensível que aprendeu a dar e a receber são campos onde se ouve o
Senhor que chama e convida a seguir.
Ser padre por outros motivos, razões e sonhos seria caminhar
para a desilusão. Porém, a doação aos outros, por amor, é caminho de felicidade
e de paz. Cristo calcorreou esse caminho e deixou-o aberto para a Igreja e para
os que nela mantêm, por força da fé, a alegria de ser discípulos.