Como está pobre o humor em Portugal...
António Marcelino
Cada vez têm menos humor os humoristas profissionais, qualquer que seja o meio de comunicação de que se servem. Quem gargalha de pulmões abertos a uma boa anedota acha estes senhores sensaborões, repetitivos. Claro que há sempre uma plateia que lhes bate palmas, não sei se com convicção.
Num jornal diário, chegada a sexta-feira, é uma avalanche de humoristas a quererem divertir os leitores. Vêm em grupo, como se muitos tivessem mais graça. Claro que o prato do dia são os políticos. Com pimenta quanto baste, a fuga tem sempre aberta a porta para outros horizontes, em que a piada, não raro, cheira mal.
Há um humorista que tenta, com voz melíflua, fazer humor na rádio a horas de luxo. Um jornalista da casa disse-me um dia que, lá dentro, ninguém entendia esta predileção pelo dito cujo. Mas a verdade é que ele lá continua. Com frequência tenta fazer graça da religião. Como não é ele que escreve os textos, o seu humor é feito por procuração, mostrando que tanto quem escreve como quem transmite não deve muito à originalidade e deve ainda menos à fada que os inspira.
Precisamos muito de momentos de bom humor. Mas este não se encomenda. Que saudade dos bons tempos, em que o humor era mesmo humor, e o riso nada tinha de amarelo, mas era salutar e tonificante!
Li no Correio do Vouga
- Posted using BlogPress from my iPad