domingo, 9 de dezembro de 2012

O nosso povo luta sempre, olhando para a frente

FORÇA E SABEDORIA DO POVO, TAMBÉM EM TEMPO DE CRISE

António Marcelino

Muita gente que governa, legisla, promove manifestações e grita slogans até à rouquidão desconhece o povo português ou conhece apenas uma parte dele. Esse povo que segue a sua vida e luta por ela com realismo e sabedoria, rindo-se dos que falam dele e dizem que em seu nome, sem o ouvirem e o conhecerem. Quando Sá Carneiro falou do “povo real” muitos gostaram da expressão e abusaram dela. Soava-lhes bem, mas nunca lhe captaram o verdadeiro sentido. Gritava-se, a torto e a direito, que “o povo é quem mais ordena”. E ordenou mesmo. Calou os jovens milicianos da quinta divisão que andaram, após a revolução, a percorrer as aldeias do interior para instruir o povo inculto. Fui testemunha da sua ignorância e disparates.
A reserva moral e a força de um país estão no povo que o constitui. Há tempos, na TV, perguntaram ao arcebispo de Braga como é que o povo do norte sentia e vivia a crise. O povo, disse ele, mais ou menos por estas palavras, sente a crise, mas não deixa de fazer o que está ao seu alcance para continuar o seu caminho. Não deixou as suas romarias e a sua alegria natural, trabalha e pensa que nem tudo está perdido.


O nosso povo luta sempre, olhando para a frente com renovada esperança. Os seus desânimos não duram muito. Sabe lutar e caminhar, mesmo com ventos contrários.
Mas a gente que manda e grita em Lisboa não é também povo? Alguns não gostam de o ser. Julgam-se líderes intocáveis, gente que sabe tudo e não perde tempo, nem a ouvir, nem a pensar. Outros são filhos do povo humilde, laborioso e simples, mas pensam que podiam, no barulho da capital, conquistar fortuna a qualquer preço, depressa e com pouco trabalho. Quando começam a ter o nome nos jornais esquecem a terra e família. Por vezes conseguiram o que almejaram. Alguns deles estão agora no atoleiro. Do povo tem vindo, também, ao longo dos anos, gente grande que não se inebriou e junta, justificadamente, o seu nome aos poucos sábios deste país.
A sabedoria do povo não é a dos livros. É a da vida. Muito mais consistente, porque nascida de uma experiência vivida e sofrida. A força do povo português vem da sua secular educação moral e cristã, está-lhe colada ao coração, sempre foi determinante nos momentos, quer de facilidades, quer de dificuldades. A sementeira pode num ano não ter dado fruto, mas, no momento próprio, volta-se a semear. A esperança comanda a vida e dissipa as desilusões. Quando tem de mudar, muda. E até parte, com igual determinação, mundo fora, sem cortar a ligação às raízes, a que sempre volta a procurar a força e a renovar o sentido que o norteia na vida. O povo tem história que sempre se pode ler. Não nos livros. Na escola da vida aprende e ensina.
É preciso voltar ao povo. Não para o explorar, nem o alienar. Ninguém é seu dono. Voltar ao povo para aprender com ele a descobrir os caminhos do presente e do futuro. Uma aprendizagem que falta a políticos profissionais, a gente da comunicação social, a quantos pensam que o mundo começou agora e que, para trás, é tudo para esquecer. Uma aprendizagem que falta também a gente da Igreja. Pensa que sabe e ensina, mas acaba por tresler. Sem saber ler a vida, de pouco vale o saber.
A nossa história diz que muito do que o povo é o deve à formação cristã e à apreensão vivencial dos valores humanos e cristãos, que colheu no seio da família, na catequese e na comunidade onde todos se conhecem e partilham. Mas será que este povo ainda existe? Ouçam-no e verão que sim. Dizia-me um rural a quem dei boleia numa estrada íngreme da serra e deixei falar num momento difícil e penoso: “Sabe, senhor, o que vai cá dentro da gente, e que Deus nos deu, ninguém o tira se a gente não quiser”. É isto que faz a força do povo. Uma luz que vai cá dentro e que nunca morre na sua determinação.
As crises económicas um dia passam, porque há gente que não se deixa esmagar. Deixam marcas, provocam lágrimas, geram dores, espezinham direitos, acordam para realidades esquecidas, mas não têm raízes que as tornem eternas. Delas também se aprende. Quem tem horizontes curtos fica aí parado, somando amarguras e críticas. Quem, como o povo são e sábio, nunca deixou de olhar para o alto e para a frente, aprendeu o que significa ter esperança e sabe que nenhum esforço se perde, quando se decide pela vida. Não gasta o que não tem, sabe poupar, guardar e partilhar, gera amigos, aconselha-se nas horas más, confia na Providência, faz por viver de pé na abundância e nas privações. É assim a força do povo. Uma força capaz de ser luz, uma sabedoria caseira para vencer todas as crises.


- Posted using BlogPress from my iPad

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue