Dar testemunho da verdade
Georgino Rocha
Hora decisiva, a que Jesus vive no encontro com Pilatos ocorrido no palácio do governador romano. Está em causa a confirmação da sentença de morte já pronunciada pelas autoridades político-religiosas judaicas. Hora em que se condensa a urgência humana de saber quem é Jesus e o permanente desejo de Deus de dar a conhecer quem Ele é. A pergunta de Pilatos desvenda esta corrente profunda da humanidade. A resposta de Jesus revela à saciedade a sua identidade expressa na missão da realeza ao serviço da verdade. Dois homens frente a frente: o acusado mostra uma autoridade moral que deixa o seu interlocutor perplexo e sem alegações. Apenas a pergunta que percorre toda a história: o que é a verdade?
Sábios filósofos e gente simples, escritores e analfabetos, reis e súbditos, crentes e agnósticos, deixam registos da procura que o coração humano vai fazendo, “ás apalpadelas”, na esperança de ver satisfeita a fome que o impele a prosseguir sempre mais. Agostinho, o santo bispo de Hipona, dá voz a esta procura e nome a este desejo no seu livro “Confissões”. Coração inquieto que experimenta momentos fugazes de felicidade, vive situações de amargura frustrante e busca novas oportunidades para saciar o “eterno” desejo que o anima… até em Deus se encontrar. E então exclama: “ Oh eterna verdade, verdadeira caridade e cara eternidade. Vós sois o meu Deus: por vós suspiro dia e noite”.
Servir a verdade é o núcleo da missão de Jesus. Quando a verdade impregna toda a vida e suas circunstâncias, a convivência social e suas instituições são revigoradas com uma seiva salutar donde brota a justiça e a paz. A autoridade faz-se serviço e os detentores do poder dão preferência aos empobrecidos pela ordem estabelecida. As relações humanas são entre iguais e revelam a comum dignidade de todos, deixando a claro a injustiça de qualquer descriminação e exclusão. O acesso aos bens fundamentais é aceite como regra que garante a cada um o nível de vida digno e honesta.
A verdade a respeito de Deus faz-nos ver na fraternidade assim vivida “o rosto” do Pai de família que trabalha dia e noite, incansavelmente, e dá alento aos esforços humanos para que proporcionem a cada pessoa a sua realização integral e feliz. Faz-nos ver o sentido dos passos do nosso peregrinar, rumo à casa paterna onde uma multidão de irmãos nos espera em jubiloso convívio. Faz-nos ver a importância de cada momento, ponto de encontro do tempo com a eternidade.
A verdade brilha no agir de Jesus. Ele é a verdade. Mais do que palavras, apresenta o exemplo da vida em atitudes que nos comunicam a sua realeza e desvendam o seu reino. O contraste é flagrante. Os pilatos de todos os tempos lavram a sua própria sentença. Jesus, o condenado vitorioso, garante a definitividade da realeza que dá testemunho da verdade. Não se confunde com este mundo pois é de outra ordem, mas infunde-lhe um novo espírito que o renova radicalmente e lhe abre horizontes de infinito.
Foto: Santo Agostinho