quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Dia Mundial da Saúde Mental — 10 de outubro


Por Maria Donzília Almeida



 “Mens sana in corpore sanu”


"Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios, porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas."
Lygia Fagundes Telles


“Saúde mental” é um tema muito delicado e...opinar sobre ele parece ser uma ousadia a toda a prova! Mesmo assim e correndo o risco de meter a foice em seara alheia, atrevi-me a abordá-lo.
Nos tempos conturbados que correm, é difícil manter a sanidade mental, mas também não é aconselhável deixar que outros tomem as rédeas do poder, conduzam os nossos destinos e fiquemos impávidos e serenos perante o desastre! Do que tenho lido sobre o tema, a loucura poderá, por vezes, ser a forma inconsciente do ser humano de suportar o sofrimento excruciante que a vida impõe. E, por vezes, o insano, demente ou atrasado mental, como vulgarmente a sociedade apelida esses indivíduos, nem sempre é tão destituído como pensa o comum dos mortais. Recordo o episódio passado num hospital psiquiátrico, em que um doente é interpelado pelo diretor da instituição: — Porque conduz esse carrinho de mão, de pernas para o ar?- Se o levar direito, carregam-mo com tijolos!
Dá para refletir e sobre isso, gostaria de dizer que não consigo estabelecer a linha de fronteira entre a normalidade e o seu oposto! Nem ninguém ainda se atreveu, por maior Q.I. que possua, a fazer essa definição! Se é certo que “De médico e louco todos temos um pouco!”, mais difícil é, então, rotular as pessoas. Uma certa loucura saudável até faz parte duma personalidade equilibrada. Não vivemos ancorados, numa zona de branco ou de preto, ambas se misturam e completam, dando um matiz que é mais real, mais humano!
Recolhi algumas frases de celebridades que opinaram sobre a sanidade/insanidade mental.

"O neurótico constrói um castelo no ar. O psicótico mora nele. O psiquiatra cobra o aluguer."
Jerome Lawrence

“Há uma fina linha entre genialidade e loucura. Eu apaguei essa linha.”
Oscar Levant

"O amor é a sabedoria dos loucos e a loucura dos sábios.”
Samuel Johnson

"O casamento transforma muitas loucuras curtas, numa longa estupidez."
Friedrich Nietzsche

"Vão para o diabo sem mim, ou deixem-me ir sozinho para o diabo! Para que haveremos de ir juntos?"
Fernando Pessoa

Saúde mental é sentirmo-nos bem connosco próprios e na relação com os outros. É sermos capazes de lidar de forma positiva com as adversidades. É termos confiança e não temermos o futuro. A saúde mental e a saúde física são duas vertentes fundamentais e indissociáveis da saúde.
Estima-se que em cada 100 pessoas 30 sofram, ou venham a sofrer, num ou noutro momento da vida, de problemas de saúde mental e que cerca de 12 tenham uma doença mental grave.
A depressão é a doença mental mais frequente, sendo uma causa importante de incapacidade.
Em cada 100 pessoas, aproximadamente, uma  sofre de esquizofrenia.
Ao longo da vida, todos nós podemos ser afetados por problemas de saúde mental, de maior ou menor gravidade. Algumas fases, como a entrada na escola, a adolescência, a menopausa e o envelhecimento, ou situações como a perda de familiar, o desemprego, a reforma e a pobreza podem ser causa de perturbações da saúde mental.
Neste momento, uma grande fatia da população portuguesa, está ou virá a ficar num futuro próximo, deprimida. E, ouso perguntar dentro do contexto do tema:- Será que os nossos políticos, responsáveis pela situação de decadência em que nos encontramos, não padecerão de insanidade mental? Será que as medidas de austeridade que andam na boca de todos eles, com o dedo apontado para o povo, não deveriam começar por eles, quando quatro dedos da mão ficam voltados para si mesmos? Será, que este país às avessas, tal como a bandeira hasteada no feriado da República, não estará em mãos insanas?
As pessoas afetadas, por problemas de saúde mental, são muitas vezes incompreendidas, estigmatizadas, excluídas ou marginalizadas, devido a falsos conceitos, que importa esclarecer e desmistificar, tais como:

•          As doenças mentais são fruto da imaginação;
•          As doenças mentais não têm cura;
•          As pessoas com problemas mentais são pouco inteligentes, preguiçosas, imprevisíveis ou perigosas.

Estes mitos, a par do estigma e da discriminação associados à doença mental, fazem com que muitas pessoas tenham vergonha e medo de procurar apoio ou tratamento psiquiátrico, ou não queiram reconhecer os primeiros sinais ou sintomas de doença. Já lá vai o tempo em que pessoa que consultasse o psiquiatra era conotada de “maluca”. Os problemas, do foro psicológico, coexistiram por largo tempo, com o obscurantismo típico das sociedades primitivas. Pior se poderá dizer daqueles que possuindo distúrbios psicológicos graves, não os assumem, recusam o tratamento e ficam eternamente à deriva neste mar de atribulações.
O tratamento deverá ser sempre procurado, uma vez que a recuperação é tanto mais eficaz quanto precoce for o tratamento.
Mesmo nas doenças mais graves é possível controlar e reduzir os sintomas e, através de medidas de reabilitação, desenvolver capacidades e melhorar a qualidade de vida.
Os indivíduos afetados por problemas de saúde mental são cidadãos de pleno direito. Não deverão ser excluídos do resto da sociedade, mas antes apoiados no sentido da sua plena integração na família, na escola, nos locais de trabalho e na comunidade.
A escola deverá promover a integração das crianças com este tipo de perturbações no ensino regular.
Na minha prática pedagógica, inclusão significa atender os alunos com NEE (Necessidades Educativas Especiais), nas turmas regulares, mas pressupondo a coadjuvação dos serviços de educação especial, e também a prestação de serviços educacionais adequados a todas essas crianças.
Estes serviços devem ser complementados com tarefas que envolvam a criança ou jovem na comunidade, permitindo a aquisição de um conjunto de competências a aplicar no quotidiano de cada um.
O conceito de escola inclusiva é, acima de tudo, a passagem de uma pedagogia centrada no ensino, para uma pedagogia centrada no processo de aprendizagem, onde os conteúdos a lecionar, funcionam como instrumentos para desenvolver as capacidades dos indivíduos. Os métodos adequados deverão ser interativos e o papel do professor será apenas o de o facilitador da aprendizagem.
O conceito de inclusão vem assim, agora, pressupor uma aprendizagem em conjunto e não apenas educação especial.
A escola inclusiva pretende educar todos os alunos de um mesmo sistema, comprometendo-se a proporcionar programas educativos adequados à sua singularidade. No que respeita ao contexto sala de aula, as escolas inclusivas apostam, na diversidade, de modo a proporcionar uma aprendizagem interativa, no respeito pela diversidade dentro e fora da sala de aula., O ensino não deve afastar-se da heterogeneidade social, cultural, cognitiva e também linguística dos alunos, de forma a evitar, muitas vezes o surgimento de necessidades educativas especiais.
A legislação, no que concerne ao Ensino Especial, contempla uma panóplia de medidas e programas educativos. Na prática, há um desfasamento enorme da teoria e a maior parte dos alunos, nessas circunstâncias, não têm o apoio de que carecem. Faltam professores especializados e técnicos de saúde. Também os menos afortunados da sorte sofrem com a maldita crise.
Deverão ser criadas mais oportunidades no mundo do trabalho para as pessoas portadoras de doença mental
O envolvimento das famílias nos cuidados e na reabilitação destas pessoas é reconhecido como fator chave no sucesso do tratamento.

10.10.2012

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