Por Maria Donzília Almeida
“Mens sana in corpore
sanu”
"Solução melhor é
não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por
cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não
precisaremos desses sanatórios, porque é sabido que os saudáveis não entendem
muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas.
Sem despesas."
Lygia Fagundes Telles
“Saúde mental” é um tema muito delicado e...opinar sobre ele
parece ser uma ousadia a toda a prova! Mesmo assim e correndo o risco de meter
a foice em seara alheia, atrevi-me a abordá-lo.
Nos tempos conturbados que correm, é difícil manter a
sanidade mental, mas também não é aconselhável deixar que outros tomem as
rédeas do poder, conduzam os nossos destinos e fiquemos impávidos e serenos
perante o desastre! Do que tenho lido sobre o tema, a loucura poderá, por
vezes, ser a forma inconsciente do ser humano de suportar o sofrimento
excruciante que a vida impõe. E, por vezes, o insano, demente ou atrasado
mental, como vulgarmente a sociedade apelida esses indivíduos, nem sempre é tão
destituído como pensa o comum dos mortais. Recordo o episódio passado num
hospital psiquiátrico, em que um doente é interpelado pelo diretor da
instituição: — Porque conduz esse carrinho de mão, de pernas para o ar?- Se o
levar direito, carregam-mo com tijolos!
Dá para refletir e sobre isso, gostaria de dizer que não
consigo estabelecer a linha de fronteira entre a normalidade e o seu oposto!
Nem ninguém ainda se atreveu, por maior Q.I. que possua, a fazer essa
definição! Se é certo que “De médico e louco todos temos um pouco!”, mais
difícil é, então, rotular as pessoas. Uma certa loucura saudável até faz parte
duma personalidade equilibrada. Não vivemos ancorados, numa zona de branco ou
de preto, ambas se misturam e completam, dando um matiz que é mais real, mais
humano!
"O neurótico
constrói um castelo no ar. O psicótico mora nele. O psiquiatra cobra o
aluguer."
Jerome Lawrence
“Há uma fina linha entre genialidade e loucura. Eu apaguei
essa linha.”
Oscar Levant
"O amor é a sabedoria dos loucos e a loucura dos
sábios.”
Samuel Johnson
"O casamento transforma muitas loucuras curtas, numa
longa estupidez."
Friedrich Nietzsche
"Vão para o diabo sem mim, ou deixem-me ir sozinho para
o diabo! Para que haveremos de ir juntos?"
Fernando Pessoa
Saúde mental é sentirmo-nos bem connosco próprios e na
relação com os outros. É sermos capazes de lidar de forma positiva com as
adversidades. É termos confiança e não temermos o futuro. A saúde mental e a
saúde física são duas vertentes fundamentais e indissociáveis da saúde.
Estima-se que em cada 100 pessoas 30 sofram, ou venham a
sofrer, num ou noutro momento da vida, de problemas de saúde mental e que cerca
de 12 tenham uma doença mental grave.
A depressão é a doença mental mais frequente, sendo uma
causa importante de incapacidade.
Em cada 100 pessoas, aproximadamente, uma sofre de esquizofrenia.
Ao longo da vida, todos nós podemos ser afetados por problemas
de saúde mental, de maior ou menor gravidade. Algumas fases, como a entrada na
escola, a adolescência, a menopausa e o envelhecimento, ou situações como a
perda de familiar, o desemprego, a reforma e a pobreza podem ser causa de
perturbações da saúde mental.
Neste momento, uma grande fatia da população portuguesa,
está ou virá a ficar num futuro próximo, deprimida. E, ouso perguntar dentro do
contexto do tema:- Será que os nossos políticos, responsáveis pela situação de
decadência em que nos encontramos, não padecerão de insanidade mental? Será que
as medidas de austeridade que andam na boca de todos eles, com o dedo apontado
para o povo, não deveriam começar por eles, quando quatro dedos da mão ficam
voltados para si mesmos? Será, que este país às avessas, tal como a bandeira
hasteada no feriado da República, não estará em mãos insanas?
As pessoas afetadas, por problemas de saúde mental, são
muitas vezes incompreendidas, estigmatizadas, excluídas ou marginalizadas,
devido a falsos conceitos, que importa esclarecer e desmistificar, tais como:
• As doenças
mentais são fruto da imaginação;
• As doenças
mentais não têm cura;
• As pessoas
com problemas mentais são pouco inteligentes, preguiçosas, imprevisíveis ou
perigosas.
Estes mitos, a par do estigma e da discriminação associados
à doença mental, fazem com que muitas pessoas tenham vergonha e medo de
procurar apoio ou tratamento psiquiátrico, ou não queiram reconhecer os
primeiros sinais ou sintomas de doença. Já lá vai o tempo em que pessoa que
consultasse o psiquiatra era conotada de “maluca”. Os problemas, do foro
psicológico, coexistiram por largo tempo, com o obscurantismo típico das
sociedades primitivas. Pior se poderá dizer daqueles que possuindo distúrbios
psicológicos graves, não os assumem, recusam o tratamento e ficam eternamente à
deriva neste mar de atribulações.
O tratamento deverá ser sempre procurado, uma vez que a
recuperação é tanto mais eficaz quanto precoce for o tratamento.
Mesmo nas doenças mais graves é possível controlar e reduzir
os sintomas e, através de medidas de reabilitação, desenvolver capacidades e
melhorar a qualidade de vida.
Os indivíduos afetados por problemas de saúde mental são
cidadãos de pleno direito. Não deverão ser excluídos do resto da sociedade, mas
antes apoiados no sentido da sua plena integração na família, na escola, nos
locais de trabalho e na comunidade.
A escola deverá promover a integração das crianças com este
tipo de perturbações no ensino regular.
Na minha prática pedagógica, inclusão significa atender os
alunos com NEE (Necessidades Educativas Especiais), nas turmas regulares, mas
pressupondo a coadjuvação dos serviços de educação especial, e também a
prestação de serviços educacionais adequados a todas essas crianças.
Estes serviços devem ser complementados com tarefas que
envolvam a criança ou jovem na comunidade, permitindo a aquisição de um
conjunto de competências a aplicar no quotidiano de cada um.
O conceito de escola inclusiva é, acima de tudo, a passagem
de uma pedagogia centrada no ensino, para uma pedagogia centrada no processo de
aprendizagem, onde os conteúdos a lecionar, funcionam como instrumentos para
desenvolver as capacidades dos indivíduos. Os métodos adequados deverão ser
interativos e o papel do professor será apenas o de o facilitador da
aprendizagem.
O conceito de inclusão vem assim, agora, pressupor uma
aprendizagem em conjunto e não apenas educação especial.
A escola inclusiva pretende educar todos os alunos de um mesmo
sistema, comprometendo-se a proporcionar programas educativos adequados à sua
singularidade. No que respeita ao contexto sala de aula, as escolas inclusivas
apostam, na diversidade, de modo a proporcionar uma aprendizagem interativa, no
respeito pela diversidade dentro e fora da sala de aula., O ensino não deve
afastar-se da heterogeneidade social, cultural, cognitiva e também linguística
dos alunos, de forma a evitar, muitas vezes o surgimento de necessidades
educativas especiais.
A legislação, no que concerne ao Ensino Especial, contempla
uma panóplia de medidas e programas educativos. Na prática, há um desfasamento
enorme da teoria e a maior parte dos alunos, nessas circunstâncias, não têm o
apoio de que carecem. Faltam professores especializados e técnicos de saúde.
Também os menos afortunados da sorte sofrem com a maldita crise.
Deverão ser criadas mais oportunidades no mundo do trabalho
para as pessoas portadoras de doença mental
O envolvimento das famílias nos cuidados e na reabilitação
destas pessoas é reconhecido como fator chave no sucesso do tratamento.
10.10.2012