Texto de Maria Donzília Almeida
Casa dos repuxos
Ontem, dia 3 de Maio, rumou da nossa escola, um grupo de alunos do 5.º ano, para uma visita de estudo, com destino a Conímbriga. Apesar das condições atmosféricas adversas, lá partimos, com a chuvinha a cair certinha e a embaciar as janelas da camioneta. Contudo, a alegria e o entusiasmo desta gente miúda é alheia a qualquer contratempo.
Como primeiro destino, tivemos as ruínas de Conímbriga. Aquilo que as criancinhas aprendem, em contexto de sala de aula, é confirmado e para sempre gravado naquelas memoriazinhas em crescimento. Depois da gravação na pedra, que os Romanos deixaram para a posteridade! Conímbriga localizava-se na via que ia de Olissipo, a Bracara Augusta. Foi ocupada pelos romanos durante as campanhas de Décimo Junio Bruto, em 139 a.C. No reinado do imperador César Augusto (século I), a cidade sofreu importantes obras de urbanização, tendo sido construídas as termas públicas e o Fórum.
Mosaico
Nos finais do século IV, e com o declínio do Império Romano, foi construída uma cintura muralhada de defesa urbana, com cerca de mil e quinhentos metros de extensão, para substituir e reforçar a antiga muralha do tempo de Augusto. A maneira um tanto rústica, como este muro está construído, denota uma certa urgência na sua obra, evidenciando um clima de tensão e de iminentes ataques, por parte dos povos bárbaros. Com as Invasões Bárbaras da Península Ibérica, em 464 os Suevos assaltaram a cidade, vindo a destruir parte da muralha em novo assalto, em 468. A partir da vitória dos Visigodos sobre os Suevos, a cidade acabou por perder o seu estatuto de sede episcopal para Aeminium (hoje Coimbra), que possuía melhores condições de defesa, e para onde se transferiu a sede episcopal, embora nos Concílios até ao século VII continue a aparecer o bispo da cidade. Os habitantes que permaneceram, fundaram Condeixa-a-Velha, mais ao Norte.
Enquanto circulavam por entre estas memórias do passado, os alunos ouviam, com a atenção que a sua irrequietude lhes permitia, a informação que os professores lhes davam e que liam nos letreiros, abundantes pelo espaço.
Ruínas
Durante o percurso por estas ruínas, cruzámo-nos com um grupo de turistas e de imediato o L... me segredou: S’ôra! Aquelas senhoras parece que estão a falar Inglês! Vai falar com elas! Pratica os teus conhecimentos e verifica como te é útil, saberes esta língua! — Ripostou a teacher, já a antever um agradável diálogo, ao vivo, com native speakers! O rapaz ainda hesitou um pouco, tímido ali, mas não nas aulas; com um “empurrãozinho” da teacher e a apresentação prévia, às turistas australianas, lá entabulou conversa e fez a demonstração do que tinha aprendido até ali: perguntou sobre o país de origem, o país dos cangurus, se estavam a gostar de Portugal, etc., etc. Desta forma, o L... e todas as crianças, em geral, constatam a utilidade das aprendizagens que fazem na escola, que é o laboratório da vida. Esta cena foi, para mim, altamente pedagógica e prometo que vou tirar dividendos dela.
A atual Conímbriga é devida a escavações arqueológicas sistemáticas, que começaram, em 1899, graças a um subsídio concedido pela rainha D. Amélia. Entre os seus pesquisadores destaca-se Virgílio Correia que, entre 1930 e 1944, escavou toda a área contígua à muralha Leste, colocando a descoberto, extramuros, as termas públicas e três vivendas. Entre estas últimas, destaca-se a chamada Casa dos Repuxos, com uma área de 569 m², pavimentada com mosaicos e com um jardim central onde se conservava todo um sistema de canalizações com mais de 500 repuxos. Os alunos deliravam com a visão daquelas preciosidades! Transpondo-nos àquela época, os Romanos revelaram um aturado conhecimento de engenharia hidráulica. E que beleza! Na zona interna à muralha as escavações revelaram uma basílica paleocristã e uma luxuosa vivenda com termas privativas.
As escavações revelaram ainda um fórum augustano, demolido na época dos Flávios, altura em que a cidade recebeu um estatuto municipal, para dar lugar a um novo fórum de maiores dimensões e monumentalidade; e umas termas, também construídas no reinado de Augusto.
Os, abundantes, materiais arqueológicos, de toda a espécie, que não era possível conservar no local, encontram-se no Museu Monográfico de Conímbriga. Aí, os nossos alunos puderam observar a panóplia de instrumentos, em boas condições de conservação e exposição, que fizeram as delícias dos professores de história e respetivos alunos. Afinal, as aulas não são a “seca” que as criancinhas muitas vezes dizem, mas o aguçar do apetite para o conhecimento do mundo mais amplo e a preparação para a leitura do documento histórico.
Em seguida, a todo este esforço para compreender a antiguidade, houve o almoço, nas imediações do museu, ao ar livre, onde aquelas bocas famintas deglutiram o lanche que as mamãs pressurosas fizeram questão de preparar.
Pavão
Após o opíparo repasto dos alunos e frugal dos s’ores, cada um levara o seu, partiu-se para Montemor-o-Novo, onde o objetivo era visitar o Euro-Paradise. Um Zoo em pequenas dimensões, mas já com uma amostra razoável de espécies, mantidas em cativeiro. Encantaram-se a apreciar os primatas, com a sua agilidade a fazer acrobacias, quais trapezistas de circo. Houve um, até, de pequenas dimensões que trazia a cria agarrada à cintura, o que em nada o impedia de pular na corda, fazendo piruetas. Foram observadas aves de várias espécies, mas foram os pavões que verdadeiramente surpreenderam miúdos e graúdos! Quando eles abriam a cauda, era uma correria, com as máquinas fotográficas, para captar aquela beleza deslumbrante.
No setor dos tigres da Sibéria, com dois exemplares bem tratados de pêlo lustroso, foi um espetáculo, na pura aceção da palavra! As criancinhas rodearam o tratador, enquanto este se ocupava a dar alimento aos animais. Fizeram todas as perguntas que a curiosidade infantil lhes permite e... aprenderam, ali, in loco, muita coisa que, se calhar, lhes escapa nas aulas. Foi uma verdadeira aula de campo e até os professores das letras, aprenderam que as crias dos tigres são reencaminhadas para o habitat natural, para não se extinguir a espécie. E... que a alimentação do casal, custa ao Zoo, 600 € por semana!
No final, passaram pela Souvenir shop, donde saíram com as penas dos pavões e picos de porco-espinho, para oferecerem às mãezinhas. Como estar junto das criancinhas é estar no meio da inocência e candura, o S. Pedro intercedeu por nós e deu-nos um tempo maravilhoso de tarde, que permitiu que a visita de estudo tivesse decorrido, em beleza! Obrigada, S. Pedro!
04.05.2012