Nesta data, no já longínquo ano de 1886, a Coca-Cola é posta à venda pela primeira vez. Hoje deve vender-se quase em todo o mundo, sendo um ícone do capitalismo global.
Em Portugal não atravessou a fronteira com facilidade. Salazar opôs-se tenazmente. E não deixou de indicar as suas razões a quem o tentou subornar!
Muitos portugueses, contudo, sabiam da existência da Coca-Cola e até se imaginavam a saboreá-la, decerto. Mas cá no país não havia hipótese.
A primeira vez que fui a Espanha, passando a fronteira da Galiza com um casal amigo, entrámos de imediato num café para beber uma Coca-Cola. Que bem nos soube.
Vamos agora ver as razões do velho Salazar, em 1962, conforme as encontrei e li em “Os Costumes em Portugal”, de Maria Filomena Mónica. Ora leiam, por favor:
«Salazar sempre pensara que um país que tivesse a coragem de ser pobre seria um país "invencível". Era assim que em 1962 ele via Portugal: um país modesto, recatado, obediente. Mas o Mundo não ia nesse sentido. Mesmo aqui, no seu velho Portugal, começavam a detectar-se imitações de modas estrangeiras, desejos de leituras imorais, apetências por consumos aberrantes. A história das suas relações com a Coca-Cola é exemplar. Não era apenas por a bebida ferir os interesses da viticultura que Salazar decidiu interditá-la. A cerveja também o fazia e acabou por se instalar em Portugal. Diz-se que um dia um funcionário americano o tentara subornar, convencido de que desta forma o objectivo seria atingido. De documentado existe apenas o que Salazar escreveu a A. Makinsky, o responsável da multinacional para a Europa. Salazar explicou-lhe claramente os motivos da recusa: "Sei perfeitamente que o senhor nada tem a ver com vinhos, nem com sumos de fruta e é bem por outra razão que – apesar das excelentes relações que mantemos, o senhor e eu, e que datam da época em que representava a Fundação Rockefeller e não sonhava sequer em fazer parte da Coca-Cola – sempre me opus à sua aparição no mercado português. Trata-se daquilo a que eu poderia chamar ‘a nossa paisagem moral’. Portugal é um país conservador, paternalista e – Deus seja louvado – ‘atrasado’, termo que eu considero mais lisonjeiro do que pejorativo. O senhor arrisca-se a introduzir em Portugal aquilo que eu detesto acima de tudo, ou seja, o modernismo e a famosa ‘efficiency’. Estremeço perante a ideia dos vossos camiões a percorrer, a toda a velocidade, as ruas das nossas velhas cidades, acelerando, à medida que passam, o ritmo dos nossos hábitos seculares." Enquanto Salazar vivesse, o símbolo da civilização moderna não atravessaria as fronteiras portuguesas. Ele o quis; assim se fez.»