Por Georgino Rocha
O acontecimento do Pentecostes manifesta como o Senhor Jesus coopera com os seus enviados. Enche-os do seu Espírito e traça-lhes, mais uma vez, os horizontes da missão. De outro modo, como seria possível àquele grupo ir por todo o mundo, anunciar o Evangelho de forma acessível em todas as línguas, semear a paz em gestos de perdão, garantir um futuro melhor, abrir as portas do amor misericordioso, criar condições para que todos se reconheçam como irmãos porque filhos do mesmo Deus Pai?! Humanamente, impossível. O grupo estava ainda traumatizado pelas atrocidades da paixão, temeroso pelo que podia suceder-lhe, debilitado em forças e reduzido em número.
Jesus, mais uma vez, faz do “pequeno enfraquecido” um protagonista vigoroso, um arauto destemido, um mensageiro ousado. E os discípulos “escancaram” as portas do coração e da casa onde se encontram e vêm para a rua, cheios de alegria e confiança, percorrem os caminhos do mundo, organizam comunidades e garantem a sucessão, confirmando os seus responsáveis.
Se o rosto visível tem os traços dos apóstolos, o agente principal da missão é o Espírito Santo, aquele que Lucas e João nos apresentam de forma tão singular, embora simbólica literariamente encenada. São várias as expressões que designam esta realidade sublime: alento do sopro humano, rumor de forte rajada de vento, línguas de fogo a poisar sobre cada um, diversidade de línguas que os ouvintes reconhecem como suas, espanto e admiração que brotam do coração destes ao perceberem as maravilhas de Deus, de modo acessível e inteligível (inculturado).
A primeira maravilha é a união testemunhada por aqueles que recebem o Espírito. Todos em conjunto anunciam o mesmo Messias salvador, morto pelos judeus e ressuscitado por Deus Pai. Todos diferentes em capacidades e modos de proceder, mas unidos no amor fiel a Jesus Cristo e ao mandato que receberam. Todos dispersos nos quatro cantos do mundo, mas congregados na profissão da fé e respeitadores do serviço de cada um.
Cheios do Espírito, anunciam o Evangelho da vida que faz de nós, homens e mulheres criativos, capazes de sermos alento dos abatidos, conforto dos entristecidos, alívio dos debilitados, agentes de consciencialização dos narcotizados pelas complexas redes de influência manipuladora. Sem verdade e honestidade, o evangelho da vida desvirtua-se e o padrão de valores inverte-se.
Cheios do Espírito, sabem interpretar o que acontece e descodificar os enigmas humanos que, por vezes, são portadores da mensagem de salvação. O espírito de discernimento ajuda-nos a descobrir Deus onde ele está, embora desfigurado na vida do empobrecido, maltratado nas vítimas da violência, injustiçado nos explorados da dignidade e dos bens, reconhecido e amado na dedicação generosa de tantos voluntários de serviço gratuito, de profissionais honestos e competentes, de pais e mães abnegados, de diáconos e padres alegres e generosos, de bispos servidores da Igreja solidária com o mundo e suas turbulências.
O Espírito faz-nos situar no tempo que é o nosso, falar as linguagens da sua cultura, acolher as múltiplas inquietudes da sua consciência, sintonizar com as aspirações mais genuínas da sua humanidade e, em parceria saudável e construtiva com outros, procurar caminhos de realização integral, oferecendo o que somos e temos de melhor: a verdade que liberta pelo Espírito de Jesus ressuscitado, o sentido de uma vida doada no amor incondicional, o rumo de um caminho traçado na história e percorrido num tempo aberto ao futuro de Deus.
Vem Espírito, vem e faz de nós agentes de transformação, profetas da civilização da justiça e do amor, mensageiros da alegria confiante e revigorante.