PITADAS DE SAL – 16
A FAUNA DAS MARINHAS:
PEIXES E OUTROS ANIMAIS
Caríssima/o:
Quando na conversa vem à baila “as marinhas”, para além do sal, logo se pensa em “enguias”; e tem a sua lógica. Sem muito esforço, todos recordamos cenas reais tal como a que pintou João Pereira de Lemos:
«A caminho das Pirâmides, pelo Canal de Aveiro, deparámos com um espectáculo insólito. Os marnotos, que também são pescadores por arte e ofício, tinham aberto as “bombas” do viveiro para apanharem o peixe, montando uma rede. Robalos, tainhas e solhas, ao serem arrastados pela força da água, ficaram no saco do botirão ou caixilho, mas as enguias foram ficando no fundo até ao último fio de água, enfiando-se na lama.
Então um homem, munido de uma foice com o gume cegado, e como quem corta a lama em fatias, com golpes certeiros e violentos, arrancava as enguias da lama, projectando-as pelo ar a longa distância, parecendo gravetos contorcendo-se no ar. Aí a uns quinze metros, dois homens segurando cestos de duas asas, redondos como os de ir a erva, esperavam as enguias vindas pelo ar como quem espera uma dádiva do céu, sem contudo deixarem de andar às correrias de um lado para o outro para as apanharem sem tocarem de novo a lama e limos. Junto com as enguias vinham pedaços de lama negra, que se colava ao corpo, deixando-os pintalgados e caricatos!
É um espectáculo que proporciona gargalhadas a todos os presentes. servindo de gáudio e proveito.» [A Ria de Aveiro – um olhar resvés, p. 102]
Há quem diga que «[D]esde 1858, em Aveiro, utilizam-se as marinhas de sal para a criação de peixe. Esta actividade representava um complemento à extracção de sal e realizava-se apenas no Inverno, período em que as salinas estão em pousio. Em alguns casos, parte da salina funcionava como viveiro permanente.
Até recentemente a criação de peixe nas salinas era feita sem grandes cuidados.
Actualmente, muitas salinas estão a ser convertidas a tempo inteiro em pisciculturas controladas.
Existem viveiros de enguias, douradas, linguados, solhas, robalos e outras espécies.»
Ora, sem falharmos muito, pode afirmar-se que nas marinhas há toda a probabilidade de encontrar tudo o que se vê em Ria aberta: caranguejos, robalos, mexilhões,... e camarão, muito camarão.
No reino dos mamíferos, um é dominante e causador de grandes prejuízos nos muros: a ratazana!
Agora o que todos os observadores atestam é a grande variedade de aves que tornam os ares das marinhas diferentes e únicos: garçotes, borrelhos, maçaricos, ..., para só dar três exemplos das dezenas que, cruzando-se à nossa frente, em voo rasante e picado ou nas alturas de asas abertas e alongadas deslizando nas aragens azuladas, parecem lançar convites para as seguirmos à descoberta dos seus ninhos ou de caminhos novos cheios de promessas.
Gostaria, porém, de deixar um desafio para alguém mais distraído ou que só agora nos acompanhe nestas aventuras:
Por que não uns bolinhos de cabozes?
São uns peixes pequenos que abundam nas nossas marinhas e que os “especialistas” apanham com uma rede de malha apertada feita de propósito para esta captura.
Mas vamos à receita:
«BOLOS DE CABOZES
Ingredientes: Cabozes - Farinha de trigo - Água - Sal - Ovos - Cebola picada - Salsa picada - Sal - Pimenta q.b.
Preparação: Cortar a cabeça e escamar os cabozes.
Desfaz-se a farinha de trigo em água, juntam-se ovos (7 ovos para 1Kg de farinha). Mistura-se depois cebola picada, salsa picada, sal e pimenta.
Numa sertã com azeite bem quente, frita-se a mistura pondo uma colher de sopa bem cheia do preparado a que se junta os peixes. Forma-se um bolo que ao sair da sertã tem de ser escorrido, deixando secar o óleo. Servir bem quente, podendo ser acompanhados com verduras.»
Que saibam bem e façam melhor proveito!
Manuel