Vasco Graça Moura |
Uma fuga curta, para a Figueira da Foz, permite-me algumas leituras, longe dos meus quotidianos. Estas fugas fazem-me bem, embora nem sempre seja fácil afastar-me dos meus espaços naturais. Mas hoje tive a oportunidade de iniciar umas leituras em atraso, ficando a léguas de poder arrumar o que está sempre à minha espera.
Com frequência me interrogo sobre bibliotecas particulares com milhares de obras nas prateleiras das estantes de algumas personalidades e até de pessoas comuns minhas conhecidas. Será que têm tempo para tanta leitura? É possível demonstrar, por A mais B, que não têm. Comprar só para encher estantes e para vista? Penso que não vale a pena.
O escritor multifacetado Vasco Graça Moura, a propósito desta questão, respondeu um dia a um jornalista que não tem hipótese de ler os milhares de livros que possui. Quando muito, disse ele, já mexeu em todos.
Ora eu, que gosto de ler e que vou comprando ao sabor da maré e das críticas favoráveis a certas obras, chego a acumular livros que só mais tarde, em dias afastados de casa, poderei ler. E há muitos que, por perder o fio à meada ou simplesmente por não lhes reconhecer grande importância ou mérito, ficam de lado. Chego a recuperar alguns, mas não todos.
Somente hoje tive a oportunidade de ler a revista 2 do PÚBLICO de ontem, dedicado ao Dia da Terra. Bons temas, excelentes ilustrações, esclarecedora infografia, estudos e ciência, tudo em torno da seca, da água, do clima e da necessidade de se poupar o precioso líquido que se tornou num bem em vias de extinção, se não tivermos cuidado. Coisa evidente, para nos não tornarmos num "país à bulha com a água", subtítulo do tema geral.
Afinal, descobri que não sabemos poupar água no nosso dia a dia. Gastamos litros sem conta a tomar banho, a lavar as mãos e a boca, a lavar a louça, etc. Pormenores tão banais, mas que ninguém quer refletir sobre eles, no sentido de consumir o menos possível.
Depois desta revista, voltei-me para o que trouxe na mala ou comprei hoje mesmo. Este último vai ser o primeiro: "Levantar o céu", elogiado ontem, também no PÚBLICO, por Bento Domingues, leitura obrigatória de todos os domingos. Trata-se de um trabalho, precioso, de José Mattoso, à volta de "Os labirintos da Sabedoria". O autor diz, na Introdução, "É bom acreditar que merece a pena 'levantar o Céu', e lembrarmo-nos de que não estamos sozinhos. Felizmente há muitas mulheres e homens neste mundo a tentar unir esforços para manter o contacto entre o Céu e a Terra. É esse o caminho que a sabedoria ensina a percorrer para encontrar a saída do labirinto em que a vida nos coloca."
Fernando Martins