Texto de Maria Donzília Almeida
Donzília Almeida como turista
Quem não conhece o estereótipo do turista, de câmara a tiracolo, mochila às costas e a curiosidade estampada no rosto? No século passado, antes da globalização, ainda havia a acrescentar a estes sinais, a marca duma indumentária exótica que os tornava inconfundíveis: camisa às flores, calções claros e sandálias, tipo barcaças!
Quem não gosta de viajar, conhecer novas cidades, desbravar caminhos desconhecidos! Conhecer culturas diferentes, provar uma culinária surpreendente, deparar com uma paisagem deslumbrante e é claro divertir-se a valer com novos amigos? Que bom é viajar e ser turista! É muito importante tratar os turistas com respeito e ajudá-los sempre que possível. Afinal eles também movimentam uma boa parte da economia do país.
Quando a atmosfera de Coimbra começava a impregnar-se de fragrâncias primaveris e as noites se tornavam cálidas, os primeiros turistas do ano faziam-se anunciar com o seu ar inquisitivo e a curiosidade a absorver tudo em redor. A minha ânsia de comunicar casava bem com a avidez de conhecimento. E que melhor cicerone, que uma jovem cheia de energia e vontade de impressionar o estrangeiro com os encantos da sua terra natal?
Foram vários os estrangeiros que a minha solicitude de anfitriã, fez mergulhar nas maravilhas duma vetusta cidade. Com a informação que traziam sobre a história desta urbe universitária, era grande a avidez do conhecimento local. Como era muito jovem e apesar de, na altura, não se falar em perigos, a minha preferência no público alvo, recaía, sempre, em casais, já de meia idade, reformados, que dispunham de todo o tempo para conhecerem o mundo. Foi, na realidade, um tempo muito bom, na perspetiva da minha formação universitária, pois me deu o ensejo de praticar as línguas estrangeiras que aprendia na faculdade. Era um contacto mutuamente enriquecedor, pois me permitia, sem sair do país, comunicar com os autóctones, sentindo a língua viva. É esta, aliás, a forma mais eficaz de aprender uma língua estrangeira. Eles, turistas também apreciavam esta dádiva e eu sentia-me recompensada pela boa impressão que deixava nestes estrangeiros, ao mesmo tempo que fazia uma publicidade direta do caráter hospitaleiro do povo português. E assim, fiz muitas amizades que perduraram até hoje.
Fazer turismo refere-se a atividades muito abrangentes, não se restringindo, apenas, a grandes viagens ao estrangeiro. Para os cidadãos de parcos recursos, é muito publicitado o “ir para fora, cá dentro!”Hoje, em dia, com as consequências duma crise que se abate sobre todos, é mais premente esse apelo. Neste âmbito e para quem gosta do contacto direto com a natureza, existe a modalidade do campismo, com uma grande variedade de oferta e preços para todas as bolsas. Desde o mais pequeno iglo, até à mais sofisticada auto-caravana, há uma panóplia de possibilidades, de sair, com a casa às costas. A indústria do lazer, tem, para isso, dado um valioso contributo. É uma forma económica de conhecer o mundo, de alargar os horizontes, de ter um conhecimento profundo do lugar visitado.
Foi, em situações destas, em parques de campismo, onde os estrangeiros quase, ultrapassam os nacionais, que encontrei ótimos interlocutores, parceiros de barbecues, amenas cavaqueiras, enfim bons amigos. Desta forma, as diferenças culturais esbatem-se e o que resultava era a paz e a harmonia interculturais.
Ao longo da minha já longa vida, sempre que me encontro no papel de turista, que muito gosto de vestir, é essa aproximação, esse envolvimento, essa empatia, que gosto de sentir com as populações locais. Daí, aquele apelo, aquele chamamento que tinha, na juventude, para conduzir os turistas e mostrar-lhes os recantos da minha terra. Terei eu errado a vocação? Estaria eu predestinada a ser guia turística e falar, apenas, para quem estivesse interessado nas minhas palavras?
Nas minhas já várias situações em que estive no papel de ouvinte, e muitos guias eu já ouvi, não só estava com toda a atenção, como poderei dizer, que bebia as suas palavras! Queria saber tudo, em relação ao local onde me encontrava. Sou curiosa!
Pensando bem, acho que acertei em cheio, na vocação, ligada ao turismo! Não é o que a maior parte dos alunos de hoje, da escola da massificação, andam a fazer o tempo todo? Quem se limita a carregar os livros dentro duma mochila e vem desfrutar, apenas dos atrativos da escola, não anda a fazer turismo? Ainda se dessem ouvidos à guia turística que os quer informar dos segredos dos lugares a visitar, a saber desbravar as sendas da vida? Mas não! Apenas meia dúzia dá ouvidos, ficando os outros, alheios, aos conselhos da guia, teimando em desbravar caminhos sem uma bússola, um GPS! Querem seguir sozinhos, ao encontro do desconhecido, não se preocupando com os acidentes de percurso ou os ataques dos assaltantes de estrada! Sempre defendi e pratiquei um turismo seguro, versus esse turismo selvagem, que fazem aqueles que não têm preparação ou não querem seguir as dicas duma guia credenciada. Assim, dentro e fora da escola, movo-me como peixe na água, no turismo!
20.04.2012